quarta-feira, 18 de março de 2015

Eucalipto, o “príncipe” sequestrado

Analisemos a equação para a tomada de decisão sobre a viabilidade de uma aposta nacional em plantações de eucalipto, mas sem um dos componentes dessa mesma equação: a componente ambiental. A análise que aqui é feita terá assim em conta apenas as componentes económica e social.

Em teoria e na componente económica, o eucalipto pode ser considerado, entre outras, como um instrumento para a redução das importações de combustíveis fósseis (1), seja na produção de carvão vegetal ou de biomassa para a co-combustão e produção de energia, para a redução das necessidades de madeira na indústria de serração (2), seja para a construção ou para mobiliário, ou para a produção de pasta celulósica e papel (3).

Uma aposta múltipla e racional na produção de madeira de eucalipto poderia gerar um forte impacto na redução das importações, seja de combustíveis fósseis, designadamente de carvão mineral, associado a uma forte carga poluente, seja de material lenhoso, ainda associado a proveniências duvidosas. Será que esta aposta na redução do valor nas importações não compensaria as mais valias financeiras com as atuais exportações com base no eucalipto? E onde pagam impostos estas exportações? Qual o real impacto na nossa balança comercial?


A aposta múltipla e racional na produção de madeira de eucalipto poderia ainda contribuir para uma maior concorrência na procura, com impacto na oferta, no rendimento empresarial líquido dos agricultores e produtores florestais, no custeio de uma gestão florestal profissional e sustentável, na redução dos riscos associados às florestais, com destaque para a propagação dos incêndios e a proliferação de pragas e de doenças.

No plano social, a aposta em acréscimo de valor na produção e na indústria de serração são tradicionalmente geradoras de maior volume de emprego, mais associado a meios rurais e a pequenas e médias empresas. O rácio volume de investimento por posto de trabalho é substancialmente mais favorável, no plano social, quando associado àas PME, do que a avultados investimentos industriais, associados a escasso volume de emprego. O País debate-se hoje e nos próximos anos com uma chaga social, o desemprego.

A aposta na indústria pesada de base floresta, associada à concentração na procura têm tido resultados desastrosos na economia florestal, no peso do setor florestal no Produto Interno Bruto (PIB) e na dramática redução no emprego neste setor, este sobretudo em meios rurais, com impacto no já de si incontrolável êxodo rural.

Apesar das potenciais vantagens económicas e sociais, o facto é que as governações têm dirigido a sua aposta para o “sequestro” do eucalipto, garantido o uso quase em exclusividade (há sempre uns “furas”) pela indústria papeleira, conferindo-lhe ainda proteção para a manipulação dos preços à oferta. Mais, tem-lhe permitido a redução da sua capacidade de autoabastecimento em material lenhoso, área de maior risco deste negócio silvoindustrial, transferindo-o para o minifúndio e, em sequência, para a Sociedade.

Com esta estratégia governativa, são inviabilizados outros negócios, quer na oferta, incluindo o recurso aos apoios do primeiro pilar da Política Agrícola Comum (PAC), designadamente nas culturas em talhadia de curta rotação, mas também na indústria, por exemplo na produção de pellets energéticas, um negócio hoje a prazo e baseado exclusivamente no oportunismo criada pelo nematode da madeira de pinheiro bravo.

Quais serão as contrapartidas desta opção do poder político?

Noutras latitudes e em tempos que se querem passados, esta opção poderia confundir-se ao poder dos “coronéis”, podendo aqui os “jagunços” associar-se aos arautos do regime e aos políticos dos interesses financeiros.

Relembra-se, nesta análise não foi tida em conta a componente ambiental. Todavia, existem avaliações de impacto ambiental sobre as outras utilizações aqui mencionadas para a madeira de eucalipto.

Paulo Pimenta de Castro
Engenheiro Silvicultor