terça-feira, 14 de agosto de 2018

Carta aberta a quem se sentir responsável pelo futuro do Pinhal do Rei – Pinhal de Leiria


Todos os dias são dias para ajudar a resolver os graves problemas que se estão a avolumar nesta reserva ecológica que, por incúria dos homens que dela se deveriam responsabilizar, continua a ser “comandada” pelos desígnios da natureza, sem qualquer retoque ordenador da mão sabedora de quaisquer responsáveis pagos pelo esforço social dos nossos impostos!

Todos os dias são dias para que, a capacidade crítica daqueles que entregaram parte substancial das suas vidas em defesa desta emocionante causa da protecção do ambiente e, logicamente, da natureza, ao colocarem, quantas vezes em causa o seu prestígio, imagem, futuro, estabilidade familiar e outras vertentes que fazem parte do ser-se integro e voluntarioso com trabalho protector daquilo que outros exploram ignobilmente.

Todos os dias são dias para sofrer derrotas e desilusões, sempre arquitectadas por aqueles que não pensam do mesmo modo, que se apaixonaram em primeiro lugar pelos vaidosos interesses materiais da vida!

Todos os dias são dias...

A 8 de Agosto foi mais um dia especial para uma interacção harmoniosa num encontro de vontades conducentes à intransigente defesa que se deve prosseguir em
favor da regeneração do Pinhal do Rei ou seja, da Mata Nacional de Leiria.

Pessoalmente não sei dizer quantas visitas guiadas já organizei no vasto território deste malogrado Pinhal. Ontem foi a última, não no sentido restrito da palavra, mas no sentido temporal.

Foi com prazer que recebi Domingos Patacho, da Quercus, e Paulo Pimenta de Castro, da Acréscimo.

Para o maior “cemitério florestal” do país se combinou a visita, com um programa muito pesado para a temperatura que se sentia. Porém, os trabalhos previstos não conseguiram ultrapassar o número um do programa! Tratava-se e tomar conhecimento dos efeitos directos da ineficácia que se “adoptou” perante o que seria necessário como controlo da proliferação de determinadas infestantes na zona compreendida entre a ponte do Ribeiro de Moel e o prolongamento desse mesmo Ribeiro até ao começo da zona não ardida.

Senhores do Governo, dessa vertente florestal desde o senhor Ministro das Finanças, senhor Primeiro-Ministro, senhor Ministro da Agricultura e Florestas, senhor Secretário de Estado das Florestas:
  • Receber as receitas provenientes da venda de madeiras do PL sem que se faça qualquer cabimentação a favor da regeneração da zona ardida é uma péssima opção;
  • Permitir que o comando financeiro pertença, neste caso especial a alguém que nada tem a ver com as florestas mas sim com o próprio equilíbrio orçamental do Estado, não é mais do que uma oportunidade de acrescentar, por enquanto, mais de 12 milhões que aparecem de forma inesperada para minorar outros erros! 

O Senhor Primeiro-Ministro, tem obrigação intelectual de fazer um pouco mais e pensar que a Mata Nacional de Leiria pode voltar a ser um exemplo de incompetência política ou de capacidade corajosa de empreendimento ambiental do Estado!! Das duas uma!

A parte ministerial desta vertente do ordenamento e regeneração das florestas públicas portuguesas, tem-se comportado ultimamente, pelo caminho adoptivo do “assobiar para o lado” na expectativa ou esperança inócua do esquecimento popular do calamitoso resultado das florestas portuguesas durante o terrível ano de 2017, por exclusiva incúria do poder político português. É bom que V. Ex.ª. senhor Ministro, retome a assumpção das suas responsabilidades nestas matérias e retome o necessário caminho da recuperação florestal que se exige.

Senhor Secretário de Estado das Florestas, Miguel de Freitas: É a única pessoa que aqui cito pelo seu nome. Primeiro porque tenho por si a consideração que me parece merecer pela sua dedicação e trabalho intenso a favor desta causa de recuperação imediata do Pinhal de Leiria, que defendo. Não se trata de uma reivindicação! Sim de uma questão de lógica.

A primeira de uma série de visitas que os técnicos que no início deste texto assinalo, ofereceu a oportunidade de mostrar a quem conhece o tema, como se está a tornar irreversível a possibilidade de recuperação adequada de algumas zonas da Mata Nacional de Leiria.

Temos em programação outras visitas mais alargadas a algumas personalidades da silvicultura portuguesa, para que se possa, no local próprio, denunciar tudo aquilo que não está a ser feito de modo a garantir tamanho descalabro!

Ora vejamos:
  1. Na zona limítrofe da Ponte do Ribeiro de Moel, a primeira intervenção que julgo ter sido realizada pelo ICNF, consistiu no derrube de todos (menos um) os centenários eucaliptos que caracterizavam o local! Os senhores do ICNF ao derrubarem estas gigantescas árvores, motivaram a projecção de milhares (muitos milhares) de sementes em redor das árvores derrubadas.
  2. As copas destas gigantescas árvores foram colocadas em improvisado estaleiro no lado oposto da estrada que divide o espaço.
  3. Como resultado estas copas largaram no terreno o que restava das sementes dos eucaliptos.
  4. O que aconteceu? No espaço circundante – mais de 200 metros de diâmetro – prolifera uma vasta floresta de eucaliptos, muitos milhares, alguns dos quais já com mais de 2 metros de altura!
  5. Ainda perto deste local, não se cuidou de eliminar meia dúzia de rubínias que ali existiam e hoje, para espanto de alguns, prolifera verdejante uma enorme floresta desta espécie invasora.

Mas, regressando à Ponte do Ribeiro de Moel, para voltar à direita ao longo desse ribeiro, vamos deparar com milhares de árvores destas duas espécies invasoras denunciadas e, segundo a opinião dos silvicultores que me acompanharam nesta limitada e demorada visita, estão a tomar forma incontrolável.

Populares (?) resolveram plantar choupos em diversos locais. Porém o que fizeram foi construir focos de destruição da estrutura viária, porque plantaram esses choupos, rigorosamente encostados ao piso asfaltado de que resultará a destruição do pouco que resta utilizável daquele equipamento! Boa vontade, mau serviço!

A tentativa mediática de construir equipamentos de retenção de areias na zona da Ponte do Ribeiro de Moel, tem os resultados bem visíveis. Inacabada a obra, faltou a aplicação de mato verde na parte superior das paliçadas para permitir a eficaz funcionamento do projecto, e tem hoje um aspecto de precoces estragos.

Assim se desconstrói o futuro da Mata Nacional de Leiria.

Voltaremos!




por Gabriel Ramos Roldão