João M. A. Soares publicou um artigo de opinião, no Jornal I, no passado dia 23 de Outubro, com o título “O Presidente, os eucaliptos e o regresso aos autos de fé”.
Vou tentar não ser muito sarcástico, independentemente de constarem no artigo “factos” não verdadeiros ou muito discutíveis.
Tanto quanto julgo saber, um auto de fé corresponde a uma daquelas encenações macabras da Inquisição, em que se trajavam os ditos hereges com uma túnica de peregrino e os encaminhavam em procissão para a fogueira. Hoje em dia é algo semelhante com o que se passa com os “palitos”, no caso despidos de casca, que são encaminhados para cozedura. Estranho que quem recorra a imagem do auto de fé seja quem esteve ligado ao envio de “palitos” para cozedura. Isto está relacionado com política florestal em Portugal? Aparentemente não, mas só aparentemente!
Há quem se sinta acossado pelos acontecimentos, depois de uma explosiva germinação de milhões de sementes de eucalipto pela área ardida em 2017. Os agora acossados são aqueles que durante as últimas décadas têm condicionado as decisões políticas em matéria de política florestal em Portugal a seu favor. Respondem agora, não ao problema, mas sobre os ambientalistas. Ainda não entenderam o problema! De facto, os ambientalistas há muito chamam a atenção para os problemas que têm vindo a ser criados pela expansão epidémica do eucalipto pelo território nacional. Entre outros, também para os mais de 600 mil hectares em gestão de abandono, produtividades miseráveis de 6 metros cúbicos hectare ano como média nacional, mais de 122 mil hectares ardidos só em 2017. Não entenderam que, a acção do Presidente da República no arranque de plantas de eucalipto dificilmente se enquadraria numa acção de grupos ambientalistas. É bem mais provável que responda às preocupações dos Autarcas e estes às preocupações legitimamente manifestadas pelas suas Populações. Ou, será que agora os acossados agrupam todos no rol de ambientalistas? Haja decoro!
Se há espaço para a produção de rolaria de eucalipto para a produção de pasta celulósica em Portugal? Há! Mas, será conveniente voltar as necessidades manifestadas pela indústria papeleira em tempos de, ainda, alguma responsabilidade social, aos 300 mil hectares de ocupação territorial. Portugal não tem estrutura fundiária, populacional e financeira para suportar monoculturas. A de eucalipto, que ocupa cerca de 10% do território do país, acabou numa gigantesca epidemia, a qual terá de ser alvo de um resgate bem próximo. Mais um! Desta vez não será a um banco, mas o volume financeiro do peso sobre os contribuintes não ficará atrás.
Paulo Pimenta de Castro
Presidente da Direcção da Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal
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