Sobre a
problemática dos incêndios florestais em Portugal, governantes e Presidente da
República parecem convergir numa estratégia baseada em coimas e ações de
sensibilização. Não surpreende!
Afinal de contas,
todas estas individualidades têm responsabilidades políticas claras, quer na
proteção de negócios financeiros que crescem sob o amparo do Estado, em
mercados silvo-industriais onde a concorrência é controlada politicamente, quer
na incapacidade em conter o êxodo rural, responsável pelo despovoamento das
regiões rurais do País. Ou seja, depois de inviabilizarem o sustento de
centenas de milhares de famílias, proprietárias de prédios rústicos com
ocupação florestal (mas também agrícola), e de os levarem a abandonar o interior,
insistem em penalizá-los, agora com coimas e ações de sensibilização.
A gestão florestal não
se executa a toque de autos e coimas. Deve ser executada em função dos
rendimentos decorrentes de uma produção florestal, escoada para mercados
transparentes, ou da prestação de serviços com base nas áreas florestais.
Sensibilizar os
proprietários florestais para o quê? A despender os ganhos de baixos salários e
de fracas pensões em operações florestais, em terrenos cuja produção só pode
ser comercializada em mercados em concorrência imperfeita?
Mas, não é só nos
mercados que está o problema. A sistemática incapacitação dos Serviços
Florestais, sem criação de alternativas credíveis, tem deixado os proprietários
de florestas longe de uma assistência técnica e comercial que lhes permita
rendimentos adequados a uma gestão florestal que se quer sustentada,
sustentável e socialmente responsável. Ao que parece, pretende-se agora deixar
esse papel ao negócio da certificação florestal. Não chega, mais ainda quando
se pretende sustentar o mesmo num vício que se tornou viral: o de suporte de
negócios privados com dinheiro dos contribuintes.
Em floresta privada,
como é esmagadoramente a portuguesa, sem negócio rentável e sem pessoas não há como ter
mais do que uma gestão florestal minimalista, de abandono, em parte
significativa do território nacional. Para inverter esta situação, de declínio
progressivo da atividade florestal, há que apostar nestes dois fatores limitantes,
ou seja, promover a transparência nos mercados silvo-industriais, desenvolver
novas áreas de negócio (p.e., serviços ambientais), e estimular a presenças das pessoas junto das suas
áreas florestais, seja diretamente, seja através da contratualização dessa
presença através de terceiros que os representem e defendam o seu rendimento
empresarial.
Como se está em época de falar de dispositivos de combate aos incêndios florestais, importa
lembrar que os melhores resultados no sul da Europa não estão associados ao
voluntariado, mas a corpos profissionais de sapadores bombeiros florestais,
suportados pelo Estado e por negócios florestais rentáveis, sustentáveis e
socialmente responsáveis.
Paulo
Pimenta de Castro
Engenheiro
Silvicultor
Presidente
da Direção da Acréscimo, Associação de Promoção ao Investimento Florestal
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