quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Portugal não pode ser um imenso eucaliptal

Os dados estatísticos demonstram a tendência de aumento da área ardida em eucaliptal com a expansão do eucalipto em Portugal. Alguns podem argumentar tratar-se de uma relação esperada. Todavia, tal argumento revela irresponsabilidade, quando se verifica que cerca de 80% da área ocupada por eucalipto no país está sujeita a uma deficiente gestão. Esta última revela-se não só no plano técnico, visível através dos dados disponíveis do Inventário Florestal Nacional, mas também nos planos financeiro e comercial. As consequências alastram ao plano económico, social e ambiental.


Perguntar-se-á, mas o país não pode produzir papel de escritório de qualidade superior? Pode e tem (ainda) condições para o produzir. Mas, terá de o fazer em condições de responsabilidade económica, social e ambiental. Não tem sido assim! A actual distribuição da riqueza ao longo da fileira papeleira tem sido prejudicial à sociedade. Urge, pois, que sejam tomadas medidas de regulação da actividade, para que num futuro bem próximo não se criem entraves sociais à mesma, não se deprecie ainda mais o Território, nem se aumente o risco para as populações rurais, potenciando ainda mais o seu êxodo.

Com efeito, Portugal tem convivido mal com ilusões do tipo “petróleo verde”, a do eucalipto não é excepção. Também no caso do pinhal bravo, a aposta principal em produtos de baixo valor acrescentado, como as paletes e as pellets, não é potenciadora de uma adequada gestão, condicionada está pelo rendimento silvícola. No caso em concreto, pouco mais resta à fileira do pinheiro bravo do que a adopção de medidas similares às da fileira do calçado. Talvez a oportunidade passe por apostar no fabrico e comercialização de mobiliário de qualidade, entre outros, destinadas a Xangai ou a Los Angeles.

O aumento do rendimento silvícola é condição necessária à diminuição do risco de incêndio. Neste contexto, a par das medidas que incidem sobre a propriedade rústica, tem de ser tomadas medidas ao nível dos mercados, designadamente as que potenciem a concentração da oferta e uma adequada formação dos preços.

A diversidade de opções que o território e o clima potenciam tem de ter uma adequada resposta, seja na diversificação da produção de bens, necessariamente de qualidade superior, seja em serviços prestados a partir do espaço rural. Essa resposta, num país com um peso esmagador da propriedade rústica sob gestão privada, tem de evidenciar resultados concretos ao nível do rendimento familiar. De outra forma, será potenciado o abandono da sua gestão, sendo que esta situação tem gerado reflexos muito negativos não apenas nos matos e no pinhal bravo, mas igualmente no eucaliptal. Até o aproveitamento das áreas de matos pode ser uma opção financeiramente interessante, designadamente para a produção de essências para as indústrias farmacêutica e de perfumaria. Assim hajam condições que potenciem a negação do ócio. Estas centram-se ao nível da valorização do rendimento rural. Neste domínio, a inexistência de um serviço nacional de extensão não facilita as necessárias mudanças.

A aposta em monoculturas em Portugal, muito concretamente na de eucalipto, tem, a par dos problemas ambientais que ocasiona, um impacto negativo no plano económico e no social. Portugal não é um país para monoculturas, saímos todos mais pobres com esta opção.


Paulo Pimenta de Castro

Presidente da Direcção da Acréscimo, Associação de Promoção ao Investimento Florestal

domingo, 10 de setembro de 2017

Para o ano, Portugal vai arder novamente!

Sendo em parte um fenómeno natural, o facto é que o Estado, por acção e inacção, incrementa por si só o fenómeno dos incêndios.

Com efeito, atente-se ao histórico das últimas décadas só em matéria de politica florestal.

Aprovaram-se leis, desrespeitaram-se sistematicamente as leis.

Definiram-se estratégias, engavetaram-se estratégias.

Elaboraram-se planos, mais planos e planos. Deu-se trabalho à Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Criam-se alegadas reformas ao gosto e para alimentar o ego de ministros. Muda o ministro…

Fazem-se definhar organismos, criam-se outros. Mudam-se os nomes, agrava-se a falta de recursos humanos, materiais e financeiros na Administração Pública.

Estabelecem-se programas de apoio financeiro público de centenas de milhões de euros, com prejuízos privados em centenas de milhares de hectares.

Apoiam-se organizações do lado da oferta, definha o rendimento silvícola.

Fomentam-se negócios privados de alegadas certificações ambientais com fundos públicos, para prejuízos ambientais públicos.

Por fim, em apelo às energias renováveis, licenciam-se negócios de erradicação das florestas.

Desta forma, parece que a única estratégia efectiva de reduzir o impacto dos incêndios florestais passa por ter menos florestas. Mas, atenção, os incêndios rurais continuarão a ter tendência crescente!


Em todo o caso, actuar apenas sobre a prevenção e o combate a incêndios rurais, como parece ser a tónica corrente, não passará de uma estratégia de aplicar antipiréticos para debelar uma infecção. Não resolve, só mascara surtos febris (cada vez menos só estivais). Talvez seja mesmo necessário recorrer a antibióticos!


Paulo Pimenta de Castro

Presidente da Direção da Acréscimo, Associação de Promoção ao Investimento Florestal