Como técnico florestal não as deveria ter. Mas tenho! Na verdade,
não são sobre o conceito, mas são sim sobre a leitura que as várias partes
interessadas fazem do mesmo.
Vamos ao conceito e à sua evolução histórica. Em 1958, o conceito
foi definido como a aplicação de métodos comerciais/empresariais e de
princípios técnicos silvícolas na administração de uma propriedade florestal.
Com a Conferência do Rio’92, o conceito evoluiu, respeitando à administração
das florestas para a obtenção de benefícios económicos e sociais, respeitando
os mecanismos de sustentabilidade dos ecossistemas. Assim, às componentes comercial
e técnica associaram-se outras duas, uma social e uma ambiental.
Como parecem ler o conceito os técnicos florestais? Na sua
maioria, talvez por defeito de formação, aparentam vê-lo somente do lado da
componente técnica, ultimamente da ambiental. Em geral, aplicam o conceito pela
metade. Quanto da atual situação de declínio da floresta resulta desta falha
grave? Sem uma componente financeira e outra sociológica, a derrota nas suas
intervenções prosseguirá. Mesmo na apologia da gestão sustentável, como é
possível dissociar melhoria da produtividade e conservação da biodiversidade do
rendimento e das pessoas que as sustentem? Só por milagre! Mais ainda num país
quase exclusivamente de floresta privada.
Como é lido pelos atuais industriais que se abastecem de bens
obtidos nas florestas? Em geral, sobretudo nos grupos empresariais, lêem o
conceito pelo lado do que lhes possa proporcionar oferta de maior qualidade a custo protegido pelas governações. Uma leitura em
modo egoísta. Responsabilidade empresarial? Só nos famigerados “relatórios de
sustentabilidade”. O conceito e a sua certificação só lhes dão jeito para
atingir mercados mais rentáveis para os seus produtos. Já
pagar para que o mesmo seja sustentado e sustentável, só em modo de exigência à
produção e, de algumas décadas a esta parte, aos contribuintes. Da gestão
florestal querem distância, estão cada vez mais distantes das florestas, da área
de risco da satisfação dos seus interesses financeiros. Afinal, têm sempre as importações como
salvaguarda e meio de controlo de preços à oferta, ao que parece, por denúncias vindas a público, mesmo as
ilegais.
Como o lêem os dirigentes das organizações de produtores
florestais? A avaliar pela evolução do rendimento empresarial líquido na
silvicultura, não sei bem! Lêem-no?
Como o vêem os governantes? Não sendo especialistas e tendo sido mal assessorados, têm aparentado vê-lo da forma que lhes dá mais jeito. E o “jeito” tem vindo
cada vez mais do lado industrial.
Portugal é hoje o único país do continente europeu em manifesta
desflorestação, com protecionismo governamental à indústria, em incontido êxodo
rural e com o principal exportador de bens de base florestal sob suspeita de
praticas imorais num dos principais mercados internacionais. Será isto resultado
de um percurso brilhante? Afinal, quanto valem as exportações do setor florestal, que os discursos gostam tanto de enunciar como apelo ao orgulho nacional?
Paulo
Pimenta de Castro
Engenheiro
Silvicultor
Quem manda nesta grandes empresas não percebe nada de floresta, só vê números a curto prazo e não percebe que a longo prazo está a condenar a empresa ao declínio, por falta de competitividade, por falta de matéria prima de qualidade. Prefere pagar mais para importar madeira do que pagar em Portugal um preço decente que faça valer a pena olhar para a floresta com outros olhos
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