3 anos depois do dia 15 de outubro
Passaram três anos do maior incêndio da
Mata Nacional de Leiria (MNL), de que há memória, e apesar da necessária remoção
dos pinheiros ardidos para a posterior recuperação do Pinhal, persistem talhões
com madeira queimada por retirar (com material lenhoso de menores dimensões),
maciços de espécies invasoras (com Acacia
sp.) cada vez mais dispendiosos de controlar, talhões sem regeneração natural
por reflorestar, e, áreas ribeirinhas que antes serviam as populações, e o
turismo, para recreio e lazer, fortemente descaracterizadas por vegetação
exótica com comportamento invasor (Eucalyptus
globulus). Nos 3.539ha de zona de proteção, não são visíveis ações de
restauro ecológico, ou de monitorização eólica, para além dos problemas
fitossanitários identificados.
Relativamente ao modelo de gestão
aplicado, tem-se evidenciado, até à data, sobretudo a componente extrativa,
através do corte de material lenhoso de maior dimensão: pinheiros ardidos,
árvores diversas derrubadas pelo Leslie,
pinheiros que secaram devido a pragas e doenças, ou material lenhoso removido
(de modo não seletivo) no âmbito da gestão de faixas de combustível. Durante o
ano transato, observaram-se ainda ações de extração e trituração de vegetação,
com recurso a maquinaria pesada, inclusive em áreas de elevada vulnerabilidade
dunar, cujo destino será provavelmente a indústria da biomassa.
Ao
nível da reflorestação do Pinhal, os talhões mais jovens (sem regeneração
natural) e outros onde esta não ocorreu, somam 45% da área ardida (cerca de
4300ha) que necessita de ser reflorestada. No entanto, o tipo de espécies a
privilegiar, e os talhões a intervir com plantações ou sementeiras, estarão
ainda a ser definidos no Plano de Recuperação da MNL. Em finais do verão de
2019, registavam-se apenas 1.039ha rearborizados por voluntários, que
atualmente exprimem uma reduzida taxa de sucesso em resultado de diversos
fatores possíveis: a introdução de plantas provenientes de outros locais, e pouco
adaptadas geneticamente ao meio (no caso do pinheiro-bravo); períodos de
plantação tardios; a cada vez menor disponibilidade de água nos solos; e a
ausência de manutenção das plantações.
No que
se refere à regenerarão natural, já visível nos milhares de pinheiros-bravos
germinados e com sucesso vegetativo, ocorrerá apenas em 55% da área ardida
(cerca de 5200ha), ou seja, em talhões que eram povoados com pinheiros de maior
idade e que deixaram um banco de sementes com potencial regenerativo. Nestas
áreas, será contudo necessário definir um plano de intervenção, que venha a
garantir a condução da regeneração natural.
Atualmente,
sobretudo nos últimos meses, destacam-se as ações de preparação do terreno, em
alguns talhões, para plantações e/ou sementeiras, e a divulgação do concurso
para a contratação de três técnicos para a Marinha Grande.
E o
futuro? Numa época em que as alterações climáticas e as relações ecológicas em
acentuado declínio, passaram a constar nas prioridades das agendas
internacionais, a minha conceção para o futuro da MNL passa obrigatoriamente
pela introdução de novas varáveis, num modelo de gestão florestal que se deseja
dinâmico, aberto, pluridisciplinar e agregador.
Acredito que é no debate e construção de
ideias que se poderão encontrar as melhores soluções para a recuperação da Mata
Nacional mais antiga e emblemática do país, e que a participação dos cidadãos
nos processos de decisão será essencial para o desenho sustentável do
território e preservação da identidade florestal.
Sónia Guerra
Bióloga, Mestre em Ciências das Zonas Costeiras, especialista em flora e habitats da MNL
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