Com
a apresentação, pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas
(ICNF), dos resultados preliminares do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6),
ficam evidenciadas a redução substancial da área de pinheiro bravo, espécie que
durante décadas assumiu papel de destaque no panorama florestal nacional, bem
como o significativo aumento da área de eucalipto, espécie exótica que nos
últimos 30 anos viu duplicar a sua área em Portugal, a quinta maior a nível
mundial.
Os
dados agora tornados públicos, mesmo antes de publicada a metodologia de
trabalho, alteraram resultados já assumidos no inventário anterior (IFN5),
situação que carece de adequada justificação. Efetivamente, sobre uma mesma
base aerofotográfica, é possível definir diferentes critérios para a
fotointerpretação e para o tratamento dos erros subsequentes, sendo que, sem um
substancial trabalho de verificação no terreno, podem daí resultar dados muito díspares.
Importa pois clarificar este aspeto, até para consolidar os dados agora alterados,
isto para que não restem dúvidas sobre a sua credibilidade. Todavia, será
curioso verificar como irá o Estado Português justificar a alteração de dados
do IFN5, anteriormente considerados fidedignos, junto das instâncias
internacionais, como a FAO ou o Eurostat.
Em
todo o caso, assumindo os dados agora tornados públicos, importa cruzá-los com
as estatísticas económicas sobre a silvicultura e o setor silvo-industrial,
estes últimos da responsabilidade do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Evolução das áreas totais por espécie florestal.
(fonte: ICNF, IFN6 Resultados Preliminares, Fev, 2013)
(fonte: ICNF, IFN6 Resultados Preliminares, Fev, 2013)
Constatada
a duplicação da área de eucalipto nos últimos 30 anos, estão igualmente
patentes quer a redução substancial da área de pinhal bravo, quer a degradação
das áreas de montado e a subsequente queda da qualidade da cortiça. Face às divulgadas
virtudes financeiras do eucalipto ao nível do produtor florestal, não deixa de
ser curioso anotar que, apesar do aumento significativo da área total desta
espécie lenhosa, se tem assistido, de acordo com os dados expressos nas Contas
Económicas da Silvicultura publicadas pelo INE, a uma substancial queda do peso
do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura no VAB nacional. O mesmo evidenciava
um valor percentual de 1,2% em 1990, tendo decrescido para 0,8% em 2000, e mais
ainda, para 0,4% em 2010. Ao nível do Rendimento Empresarial Líquido da
silvicultura, fruto da queda do VAB e do aumento dos Consumos Intermédios, é
evidente igualmente uma redução considerável deste indicador. Ou seja, na
produção florestal, apesar das virtudes enunciadas, o eucalipto não foi capaz
de contrariar, nem mesmo de suster, a queda provocada pela redução na
disponibilidade de área de pinho bravo ou pela redução da quantidade e qualidade
da cortiça.
Evolução do peso do VAB da silvicultura no VAB nacional.
(fonte: INE, Contas Económicas da Silvicultura)
Mais,
ao nível do setor silvo-industrial nacional, essa maior disponibilidade de área
de eucalipto, face á de pinheiro bravo ou à de cortiça de qualidade, não
contrariou, nem sequer susteve, segundo os dados obtidos com base as Contas
Nacionais do INE, a queda do peso do setor ao nível do Produto Interno Bruto
(PIB). Este apresentava um valor percentual de 3,0% em 2000, passando para 2,2%
em 2005, reduzindo ainda mais em 2010 para 1,8% do PIB.
Evolução do peso da silvicultura, das indústrias florestais e do setor florestal no PIB.
(fonte: GPP, com base nas Contas Nacionais do INE)
Contrariamente
aos dados económicos atrás expressos, nos últimos 30 anos a duplicação da área
de eucaliptal e a redução da área de pinheiro bravo coincidem com uma maior
expressão dos incêndios florestais em Portugal, concretamente no que respeita à
sua propagação. Este é resultado de uma inadequada rentabilidade do negócio
silvícola, com a subsequente adoção de insuficientes práticas de gestão
florestal, que ao verificarem-se ao nível do pinhal, não são alteradas pela
maior expressão do eucaliptal.
É
por isso pertinente rever a estratégia política para o setor silvo-industrial
português, tendo por base o aumento do seu valor económico, com a aposta na
qualidade dos bens de base florestal, designadamente ao nível das
produtividades, ao invés de se insistir na quantidade, ou seja numa
massificação de área, como se pretende aliás com a recente proposta de
alteração legislativa sobre as ações de arborização com espécies de rápido
crescimento, iniciativa do Ministério da Agricultura.
Paulo Pimenta de Castro
Engenheiro
Florestal
Presidente da Direção da Acréscimo, Associação de Promoção ao Investimento Florestal
Presidente da Direção da Acréscimo, Associação de Promoção ao Investimento Florestal
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