É comum assistir-se
a discursos de lamento, por parte de alguns responsáveis das indústrias de base
florestal instaladas em Portugal, sobre a necessidade do recurso à importação
de bens florestais, alegadamente face à escassez de resposta por parte da produção florestal
nacional, quase exclusivamente privada.
Importa, antes de
mais, estar atento ao facto das importações florestais se inserirem, em parte,
numa estratégia da industria florestal de controlo de preços à produção
nacional privada.
Por outro lado, não
faz sentido argumentar sobre a escassez de matéria prima de origem florestal,
num país com cerca de 2 milhões de hectares sob gestão de abandono. Ou seja,
não se produz mais, mas não é por falta de solo disponível.
Mais! Não é
consistente o discurso da escassez de matéria prima, por parte da indústria
florestal com atividade em Portugal, quando não criou ou reduziu
substancialmente a sua capacidade de autoabastecimento. Por exemplo, a indústria de
aglomerados não dispõe de áreas de autoabastecimento, a indústria
papeleira reduziu recentemente, em mais de 30 mil hectares, a sua presença em
áreas de eucaliptal (muito embora, tenha depois vindo a público exigir 40 mil
hectares de eucaliptal, para viabilizar um investimento de 2,3 mil milhões de
euros).
As questões que
importa colocar, no que respeita às importações florestais, são:
- Qual o motivo inerente à não resposta, pela produção florestal privada, às necessidades de abastecimento da indústria florestal instalada em Portugal?
- Será que esta não resposta encontra justificação num, até agora, intransponível “gap”, entre as expetativas de valores a receber pelos bens que produz e a disponibilidade da indústria para os pagar? Ora, em Portugal, no que respeita às três principais fileiras, a do eucalipto, a do pinheiro bravo e a do sobreiro, os preços são determinados unilateralmente pela indústria. As demais fileiras até vão crescendo, quer em área florestal privada, quer em atividade industrial associada.
Por outro lado,
- Constatando-se o diferencial entre as expetativas de preços na produção florestal privada e as disponibilidades em assumi-los pela indústria, qual o motivo para esta última não criar ou fortalecer a sua capacidade de autoabastecimento?
- Estará este não investimento associado ao facto de as despesas inerentes à gestão própria gerarem valores superiores, para viabilizar uma gestão florestal que se deseja sustentável, às receitas originadas pelos bens gerados nesses espaços, tendo em conta os preços impostos à porta das fábricas?
- Ou será, pura e simplesmente, por não desejar assumir o maior risco associado ao seu negócio, na componente florestal, gerando assim mais valias acrescidas aos seus acionistas? Mas, isso seria sinal de uma enorme irresponsabilidade empresarial, social e ambiental.
Assim sendo:
- Qual a cota-parte, de egoísmo, da indústria na intransponibilidade do “gap” com a produção florestal privada?
- Valerá mais recorrer às importações? Então, de que se queixam?
A manter-se o
“gap”, as opções parecem claras. Há que assumi-las. Não assumir uma atitude neste domínio, sejas pelos agentes económicos, seja pela intervenção direta do Estado, continuará a aportar elevados custos económicos, sociais e ambientais para o país.
Paulo
Pimenta de Castro
Eng.
Silvicultor
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