Atuais
responsáveis políticos criaram recentemente o conceito de “diabolização do
eucalipto”. O discurso parece ter pegado, não se confinando a personalidades do
poder executivo. Confesso que fico curioso por saber ao que se referem. É certo
que não são especialistas da área, um deles é até novo nas lides, o que aguçou
ainda mais a minha curiosidade.
Será
que se referem às atuais tomadas de posição das ONG do Ambiente sobre esta cultura? Mas a abordagem
atual das ONGA está longe de ser a mesma da do final da década de 80. Longe
disso, tem sido suportada por profissionais da engenharia florestal e
especialistas em ciências agrários com provas dadas ao longo de várias décadas
e reconhecidas a nível nacional e internacional. A época de acorrentamento às
máquinas de florestação está muito distante, muito embora tenha à época
impedido muitos desvarios das empresas ligadas à lenhicultura do eucalipto.
Hoje, as posições têm suporte técnico e científico, designadamente as publicamente
assumidas pela LPN e Quercus, baseando-se em dados concretos, facilmente percetíveis,
designadamente no que respeita aos critérios e indicadores da gestão florestal,
desejavelmente sustentável, em cuja formulação participaram a par dos
representantes da produção e da indústria.
Não
sendo pelo posicionamento das ONGA, terá sido o conceito de “diabolização do
eucalipto” criado para mascarar:
- O crescente abandono da gestão dos eucaliptais, evidenciado nas últimas revisões do Inventário Florestal Nacional, com destaque para as regiões de minifúndio, regiões essas onde está associado o maior risco de incêndio? Risco esse associado ao aumento do desinteresse pelo negócio da produção de lenho para trituração, fruto da quebra do rendimento junto dos produtores.
- A ausência de consultoria técnica disponibilizada aos produtores, particularmente em regiões de minifúndio? Ou mesmo a discutível qualidade técnica de várias obras associadas a povoamentos de eucalipto, com impacto na própria certificação florestal? Fazendo jus à mais valia da certificação de 200 mil hectares de área de eucaliptal gerido pela industria, porque não criam as empresas dias abertos à sociedade para a visitação a tais áreas? Eu próprio estaria interessado em participar, desde claro que pudesse opinar sobre os locais a visitar.
- A ausência de regulação do mercado do lenho de eucalipto, onde impera o desequilíbrio na transmissão de valor ao longo da cadeia produtiva? Impacto esse negativo para os produtores.
- A miserável produtividade média nacional associada aos eucaliptais, a de hoje que não difere da registada em 1928?
- A distribuição de dividendos entre acionistas, sem acautelar a sobrevivência do próprio negócio no plano nacional? Ou aguarda-se que essa sobrevivência ocorra a custas dos contribuintes? Ou estará para breve a deslocalização de unidades fabris para Sul?
- O decréscimo acentuado do peso do Valor Acrescentado Bruto da silvicultura no VAB nacional, apesar da duplicação no mesmo período da área de eucaliptal,
- A queda do peso na floresta, mais acentuado ainda na indústria florestal e, consequentemente, do próprio setor no PIB? Isto apesar do aumento das exportações de produtos transformados de base florestal.
- Ou, à cedência do Governo, sem contrapartidas de extensão florestal e de acompanhamento dos mercados de produtos florestais, aos anunciados 15 mil postos de trabalho em troca de 40 mil hectares de eucalipto?
Será
que não estamos perante um conceito criado para dissimular o fomento de
“diabinhos”?
Usam-se as exportações imediatas de pasta celulósica e papel para justificar o fomento desorientado da espécie, mas qual será o preço a pagar no futuro próximo por esta desorientação orientada (incêndios florestais, pragas e doenças, erosão, qualidade da água, perda de biodiversidade, êxodo rural, desertificação)?
Usam-se as exportações imediatas de pasta celulósica e papel para justificar o fomento desorientado da espécie, mas qual será o preço a pagar no futuro próximo por esta desorientação orientada (incêndios florestais, pragas e doenças, erosão, qualidade da água, perda de biodiversidade, êxodo rural, desertificação)?
Quanto
à árvore em si e às suas potencialidades, estranho que o Governo não crie
incentivos à diversificação das opções de mercado para a madeira de eucalipto, como
alternativa à produção de rolaria, designadamente em produções de maior valor
acrescentado, como madeira para serração, para a construção ou mesmo para
mobiliário, p.e. de cozinha. Desta forma, para além do aumento do VAB da
silvicultura, poder-se-ia incrementar o aparecimento ou a reestruturação de
muitas PME de base local e regional, com a promoção de emprego e o combate ao
êxodo rural, bem como com a redução das importações de madeira serrada. Outra
alternativa, para algumas regiões do País, poderia ser o fomento da biomassa
dedicada a partir do eucalipto, quer na produção de eletricidade, quer para a
produção de calor, com a redução das importações de combustíveis fósseis, designadamente
de carvão mineral, isto inclusive com recurso a fundos do primeiro pilar da PAC.
Ou ainda, para a eventual produção de bioetanol a partir da celulose
proveniente do eucalipto, aqui também com potencial impacto na redução das
importações de petróleo. Bom, talvez um Ministério protecionista de certas
empresas industriais de base lenhosa não esteja para ai virado.
Paulo Pimenta de
Castro
Engenheiro Florestal
(Publicado no Agroportal em http://www.agroportal.pt/a/2013/pcastro4.htm#.Uc1DBvm1GPs)
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