O poder político democrático tem insistido em
“anti-inflamatórios”, tem misturado até distintos princípios ativos, mas se os
Portugueses quiserem atenuar o problema dos incêndios rurais terão de promover
uma operação cirúrgica profunda.
1.
O desfoque.
A aposta no combate pode levar alguns a pensar que tal se traduz
em votos, pode até contribuir para o PIB. Todavia, a capacidade física humana
tem limites, como se tem visto também este ano, especialmente na Serra do
Caramulo. O cansaço progressivo produz maior risco de acidente, por muito boa
que tenha sido a formação de base dos bombeiros (se é que esta é realmente boa
para o centro de operações em questão). Quantas mais vidas se sacrificarão para
se adotar uma estratégia integrada de Desenvolvimento Rural?
2.
O enfoque.
As famílias e as comunidades rurais que detêm cerca de 90% dos
espaços florestais portugueses têm de ser socialmente incentivadas,
especialmente as que detêm tais espaços em regiões onde domina o minifúndio, as
mesmas áreas que ardem violentamente ano após ano. É certo que, com o êxodo
rural, estas pessoas se traduzem em cada vez menos votos rurais, mas o País
também tem ficado cada vez mais pobre (endividado) sem a sua presença produtiva
no interior rural português.
O apoio às famílias e comunidades rurais não pode ser um mero
apoio financeiro, p.e. através de subsídios a fundo perdido, na prática uma
transferência do problema para os contribuintes, mas sim através de medidas políticas
de promoção de negócios rurais sustentáveis, inseridos nos princípios da
Economia Verde (já que a terra nos foi deixada pelos nossos pais, mas é
pertença dos nossos filhos). O que é rentável é protegido, pois coloca “comida
na mesa”.
Todavia, a rentabilidade anunciada sobre o setor florestal
português, nos números que alguns politiqueiros gostam de propagandear, está
mal distribuída. Sem rentabilidade nos espaços rurais fomenta-se o abandono da
gestão dos solos (como se sabe, esmagadoramente na posse de famílias e
comunidades rurais), o que tem por consequência um elevado impacto na
propagação dos incêndios florestais. Segue-se o despovoamento, depois a
desertificação. O País não é suficientemente abastado para poder dar-se ao luxo
de desperdiçar o seu território, nem mesmo de o “concessionar” a atividades
extrativistas, atividades essas que mais tarde os mais cedo deslocalizarão a
sua atenção para países que lhes sejam mais proveitosos. Infelizmente, o nosso
território não é passível de deslocalização (a Jangada de Pedra é apenas
ficção).
Urge, por isso, definir (e concretizar) um plano integrado de
Desenvolvimento Rural, no qual os espaços florestais serão parte integrante a
par de outras atividades económicas e de conservação da Natureza.
Paulo
Pimenta de Castro
Engenheiro
Florestal
Presidente
da Direção da Acréscimo – Associação de Promoção do Investimento Florestal
Sem comentários:
Enviar um comentário