Os últimos 40 anos
podem ser caraterizados, no que às florestas e às atividades florestais
respeita, pela contração do papel da administração pública e pelo crescimento,
sobretudo a partir de meados da década de 90, do número de organizações
representativas das florestas privadas. Mas, terão estes factos tido um
resultado global positivo?
A autoridade
florestal do Estado tem assumido diferentes denominações nos últimos anos, mas
foi na década de 80 que sofreu a maior contração, de duas direções gerais
passou a uma e foi extinto um organismo setorial de regulação económica. O
fomento florestal perdeu o protagonismo de uma direção geral para uma direção
de serviços, a regulação económica foi deixada ao livre arbítrio dos mercados. Desde
então, a Direção Geral das Florestas foi convertida para o Instituto Florestal,
reconverteu-se em Direção Geral dos Recursos Florestais, renomeou-se Autoridade
Florestal Nacional que fundiu-se mais recentemente com o Instituto de
Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Todas estas metamorfoses tiveram
contudo um traço comum, a perda e dispersão de atribuições e o empobrecimento
em capacidade técnica e operacional.
Por outro lado, as
últimas décadas caracterizaram-se pelo aumento explosivo, todavia desregrado,
do número de organizações de produtores florestais, quer de âmbito
sócioeconómico, mas sobretudo as de cariz sócioprofissional. Atualmente, regista-se
a intervenção de várias confederações, muitas federações e uma multiplicidade
de organizações regionais e locais que se assumem representativas dos
interesses dos detentores das florestas privadas em Portugal. Embora muitas das
organizações tenham surgido no âmbito da disponibilização de apoios públicos,
as entidades públicas que disponibilizaram tais fundos não assumiram qualquer papel
no planeamento no surgimento destas organizações. Nem mesmo os produtores florestais
conseguiram ordenar o crescimento do movimento associativo nas florestas
privadas.
Face a estes factos,
a contração da administração e o aumento explosivo das organizações representativas
das florestas privadas, que perfazem cerca de 98% da área florestal nacional,
quais os resultados estatísticos que daí resultaram?
A análise dos
elementos estatísticos, referentes a estas últimas décadas, não permite
concluir que haja hoje uma melhor resposta ambiental, social e económica das
florestas aos anseios dos cidadãos, muito pelo contrário. Ao longo das últimas
décadas acentuaram-se os riscos na propagação de incêndios e na proliferação de
pragas e de doenças, o abandono da gestão florestal agudizou-se, o êxodo rural
não foi contido, a indústria perdeu peso económico e concentrou-se em meia
dúzia de grupos empresariais, o emprego no setor registou um acentuado
decréscimo, as exportações de produtos de base florestal contraíram.
Ao que os dados
permitem visualizar, ao aumento de organizações representativas das florestas
privadas não correspondeu um aumento no rendimento empresarial dos
proprietários florestais, muito pelo contrário. O peso económico das florestas tem
decrescido. Os preços dos bens produzidos nas florestas privadas têm-se
degradado ao longo das últimas décadas, assim como tem diminuído a capacidade
negocial da produção florestal. Ao mesmo tempo, tem sido cada vez mais notórias
as queixas da indústria pela escassez de matéria prima nacional. Algo não bate
certo portanto, algo está em falta.
Quem estará hoje em
condições de assumir a coordenação e a operacionalização de medidas de fomento
florestal, tão reclamadas pelas indústrias de base florestal? Como e quem assume
o papel decisivo para um adequado funcionamento dos mercados, hoje em
concorrência imperfeita?
Curiosamente, nunca a
sociedade investiu tanto nas florestais nacionais como nas últimas décadas.
Nunca o retorno desse investimento público teve um tão dececionante retorno.
Pior, parece existir uma relação entre o aumento do investimento público e o
aumento dos riscos associados à destruição das florestas nacionais.
Poderá concluir-se
pela necessidade de mais administração florestal? Com certeza, por mais e seguramente
por melhor!
Deverá concluir-se por
menos associativismo florestal? Não seguramente, mas com certeza por melhor associativismo!
Que não seja apenas um mero instrumento de ressonância de políticas governamentais,
mas que se emancipe e assuma uma política de maior rendimento aos seus
associados, mais emprego e maior sustentabilidade nas florestas e nas
atividades florestais.
Com toda a certeza,
terá de haver maior e melhor interligação entre a administração e o associativismo
para um verdadeiro desenvolvimento rural e florestal em Portugal.
Não vejo contudo que
exista atualmente capacidade política para uma mudança de rumo face àquele que
tem sido evidenciado nas últimas décadas. Há todavia que manter a esperança,
melhores dias virão. Importa pois estar atento às propostas que as várias
forças partidárias farão a este propósito em 2015.
Paulo
Pimenta de Castro
Eng.
Silvicultor
Presidente
da Acréscimo – Associação de Promoção ao Investimento Florestal
(Publicado no Agroportal)
(Publicado no Agroportal)
Parabéns pela síntese, concordo plenamente.
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