O grupo The Navigator Company
criou recentemente uma campanha de bons momentos de vivencia na e com a natureza.
Deu-lhe a designação My Planet
e o hashtag #myplanet associado. O que nos oferece hoje a
Navigator?
A área de plantações de que se
abastece a Navigator e outro grupo de celulose atinge cerca de 9% do território
continental de Portugal. É a maior área relativa mundial de plantações de
eucalipto. Uma área de plantações com uma produtividade media anual miserável, esmagadoramente
sujeita a uma gestão de elevadíssimo risco. Ou seja, encontra-se sob abandono.
Se em determinadas áreas se registam produtividades acima dos 20 metros cúbicos
por hectare e ano, a média nacional não atinge os 6 metros cúbicos. Na
esmagadora maioria da área destas plantações as taxas internas de rentabilidade
(TIR) dos investimentos são negativas, para o seu ciclo global (36 a 48 anos,
com posterior replantação ao reconversão).
Grande parte da área de
plantações de eucalipto em Portugal está sujeita a contratos leoninos de
arrendamento com as celuloses, onde as rotações finais acabam abandonadas, a
aguardar o resgate pelos contribuintes. Resgate este já em curso. Têm sido
anunciados múltiplos apoios financeiros públicos à replantação ou à reconversão
de eucaliptal. Afinal, o rendimento que dizem que tal investimento gera não
abrange o ciclo todo, fica-se por metade? Metade, mas não para todos!
A distribuição da riqueza ao
longo da fileira das plantações de eucalipto assenta em mercados a funcionar em
concorrência imperfeita, dominados por um duopólio industrial. As despesas de
gestão dos eucaliptais sofrem acréscimo anual, o preço da rolaria de eucalipto
a porta da fábrica, há décadas, está longe de acompanhar tal acréscimo. As
governações reconhecem o problema, mas são omissas em acção. Pelo contrário,
têm sido generosas na atribuição de benefícios fiscais. Muito generosas!
As plantações de eucalipto em
Portugal atingem 28% da área florestal nacional, área onde a perda de
biodiversidade é evidenciada em vários estudos científicos. Área sujeita a um
crescente risco de propagação de grandes incêndios, para além de evidenciar uma
exponencial proliferação de pragas e de doenças.
A expansão da área de eucaliptal
em Portugal está associada às portas giratórias existentes entre médios e altos
cargos das celuloses e o exercício de funções dirigentes na Administração e nos
Governos. Desta forma se explicam os atropelos aos princípios e objectivos
inscritos na Lei de Bases da Política Florestal, aprovada por unanimidade no
Parlamento em 1996. Tivessem tais princípios e objectivos sido seguidos e
dificilmente o país teria vivenciado as más experiências de 2016, 2017 e 2018,
entre outras e as que se perspectivam. O eucalipto é, sem sombra de dúvidas,
espécie invasora pós-incêndio. Esta sua capacidade associada ao abandono da
gestão do território não augura boas novas para o futuro da conservação da
natureza ou para a segurança das populações.
Mas, o grau de irresponsabilidade
das celuloses não se fica pelo território português. O grupo The Navigator
Company tem sido visado em estudos internacionais realizados em Moçambique,
onde são evidenciados vários atropelos sobre as populações.
A campanha criada pela Navigator
apresenta-nos bons momentos vivência na natureza, mas a sua real face no
terreno é contrária a essa vivência. Há aqui um paradoxo.
Decididamente, o meu planeta não
e My Planet. O grupo empresarial Navigator, persiste num rumo de
irresponsabilidade ambiental e social em Portugal e em Moçambique. Esta sua
campanha #myplanet não passa de uma ordinária acção de greenwashing.
Paulo Pimenta de
Castro
Engenheiro
silvicultor
Presidente da
Direcção da ACRÈSCIMO – Associação de Promoção ao Investimento Florestal
Os Emails foram inventados para nao plantar eucaliptos.
ResponderEliminarmas os arquivos em papel o qual deveriam ser digitalizados e nao imprimidos para por a navigator e outras mais em desuso, pergunta e, porque nao reformam a preco de gasolina normal milhares de pessoas que ainda hoje dizem, eu computadores nem penssar. Retrogados huh. depois queixam-se que lhes ardeu a quinta.
... Certamente que se estes velhinhos tivessem computador e passassem a vida agarrados a ele em vez de lutarem pela sobrevivência, teriam perdido mesmo tudo, visto que o único perímetro sem eucalipto que resta actualmente em muitas aldeias são os parcos terrenos de cultivo que são cuidados por esses retrógrados, que eu vejo como gente sábia e resistente, pois em vez de serem dependentes do estado, cuidam de si e das suas aldeias. É que esta malta não manda mails mas também não depende de arquivos e despachos, na verdade,não precisam tanto de papel como os outros, os que tinham "visão" e certamente agora têm computadores, que abandonaram isto a troco de dinheiro, e não se preocuparam em encher as terras que iriam abandonar com eucalipto, cercando os que ficaram, com consequências terríveis, que é vergonhoso usar para diminuir quem ficou indefeso e muitos nem beneficiaram de um tostão de todos estes milhares, ao contrário das indústrias de celulose.
ResponderEliminarEmbora seja abafado por certas instituições intimamente ligadas à "protecção da natureza", que apoiam o corruptogal, é obviamente uma espécie invasora.
Quem o negue, venha ver com os seus olhos. São essas mesmas instituições a fechar os olhos, a deixar mails por ler, pois não podem declarar invasora, uma espécie que defendem com unhas e dentes. Ou dizem que sim, mas em voz baixa, para poderem continuar a apoiar a desertificação. Grandes contracensos.
Eu vivo lado a lado com uma plantação de 50 hectares de eucalipto, das poucas terras aqui que não foi vendida ao desbarato para uma empresa de celulose. Apesar de lutarmos para preservar a mancha de floresta nativa, e de termos inclusive computador, ardeu-nos a quinta. Espero que nunca tenha de perder tudo o que tem para perceber que o assunto é muito mais sério do que julga, e penso que em 2017 foi óbvio que tocou a todos.
Continuo a observar na linha da frente o que é aquilo que chamam produção"florestal com boas práticas", que é desertificar tudo até ao osso, plantar e adubar mais do que uma vez, destruir linhas de água, destruir vegetação ripicula, apropriação de terras, falta de cumprimento de margens. Estas produções continuam a ser subsidiadas pelo Estado, que aproveitou e lucrou milhões em donativos que nunca chegaram a quem precisava, e apoiadas por instituições que também dizem proteger a natureza. Neste caso, dias antes do fogo começou a ser feito o segundo corte e já havia plano de subsídio para remoção d raízes e renovação da plantação para o 3o ciclo de produção, só para se ter uma ideia da produtividade, já para não falar das terras apropriadas ao longo dos anos. Incluindo baldios.
De resto, os tais que cercaram as aldeias de eucalipto, pondo em risco a vida de todos, pouco ou nada fizeram, e então há milhares deles a crescer e a invadir estes vales que deveriam fazer parte da Mata da Margaraça, uma das últimas matas nacionais que passou à alçada do Estado, que se houvesse realmente visão, seria alargada e protegida, como um último reduto de vida das serras - só este ano, mesmo depois do fogo, foram descobertas centenas de espécies, entre fauna, flora e cogumelos, naquela pequena floresta.
Se a vida fosse mais importante do que a economia - como aliás, aparenta valer por estes dias de pandemia - o tratamento dado a estas serras seria muito diferente, e quase me arrisco a dizer que não seria necessário tanto investimento, como investem nas indústrias de celulose em subsídios.
É lamentável que o progresso tenha limitado a visão a muita gente, ao contrário do que seria de esperar.
Excelente reflexão sobre o greenwashing, houvessem mais pessoas a sair do ensino superior com capacidade de discernimento e espírito crítico, mais gente a servir a Natureza que nos serve, em vez de se servirem dela...