quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

AS FLORESTAS E OS ESPAÇOS FLORESTAIS PORTUGUESES


1. Breve percepção da importância da “Floresta” em Portugal

No quadro de declínio económico, social e mesmo ambiental do nosso país, particularmente do mundo rural e da realidade agrária da União Europeia, da pan-Europa e do Mundo em que, por força do processo da globalização nos integramos, as “florestas” e os espaços florestais permanecem, como permaneciam desde há dezenas de anos, o mais forte contributo ou a mais eficaz alternativa para o nosso desenvolvimento rural, nos planos local e regional, logo, no desenvolvimento nacional.

De facto, a importância económica da fileira florestal portuguesa é bem conhecida, está traduzida em inúmeros trabalhos, representa cerca de 10% das exportações nacionais, sendo as indústrias florestais portuguesas, em 2010, responsáveis por, aproximadamente, 3,5 mil milhões de euros de exportações, representando 10,3% do total das mesmas, com um saldo comercial de EUR 1.5 mil milhões sendo o 3º sector mais relevante das exportações portuguesas. (Fontes: INE, AICEP).

Os principais subsectores da fileira florestal nacional (Pasta Celulósica e Papel, Cortiça, Madeira, Mobiliário e Industrias Gráficas) são alimentados, sobretudo, por três espécies (Pinheiro bravo, Sobreiro e Eucalipto), sendo a distribuição, das principais espécies da “floresta portuguesa”, dentro dos actuais 3.458 557 milhões de hectares arborizados, a seguinte, segundo o 5.º IFN:

Pinheiro bravo: 27%, Sobreiro: 23% Eucalipto: 23% Azinheira: 13% Outras espécies: 14%.

Na década passada, a ocupação florestal no território continental teve um ligeiro crescimento (3%).

Verificaram-se algumas alterações na composição específica, com:

      SUBIDAS importantes das áreas de pinheiro-manso (+68%), dos carvalhos caducifólios (+15%) e do eucalipto (+10%)
      DESCIDAS acentuadas das áreas de castanheiro (-26%) das outras folhosas (-19 %), da azinheira (-11%), do pinheiro-bravo (- 9%) e das outras resinosas (-8%)
      MANUTENÇÃO das áreas de sobreiro

Alguns estudos admitem como possível que, num processo de expansão, a área florestal nacional possa ir além dos 39% actuais e dos 50% do território.


2. Breve abordagem do contexto Florestal Europeu.

Recursos Florestais na EU.

As florestas da Europa são, hoje, um recurso importante no Mundo.

Existem cerca de 1.020 milhões de hectares de florestas na Europa, que correspondem a 25 % do total mundial.

Na EU, as florestas ocupam 155 milhões de hectares, a que se lhe podem  juntar 21 milhões de hectares de espaços florestais.

Nos últimos 20 anos a área florestal tem-se expandido em todas as regiões da Europa, tendo crescido 800 mil hectares por ano.

No mesmo período os volumes acumulados cresceram 8,6 biliões de metros cúbicos, equivalente aos volumes totais combinados da França, Alemanha e Polónia.

Estes volumes acumulados têm aumentado mais rapidamente do que as áreas respectivas, o que significa que o volume em pé de madeira por hectare tem aumentado na Europa.

As áreas de florestas, área de floresta per capita, volume em pé e possibilidade de corte possível, evidenciam, todos, uma situação confortável no contexto mundial.

Os abates de madeiras na EU estão muito abaixo das possibilidades. Na Europa, como um todo, somente cerca de 40 % dos acréscimos são utilizados.

Na Europa, sem a Federação Russa, as percentagens de abates, aumentaram de 58 % em 1990 para 62 % em 2010.

As existências em madeiras, as indústrias de celulose e papel, de que a Europa é líder mundial, representam um potencial elevado e competitivo e as perspectivas futuras são, de facto, promissoras.

Os IFN e as estatísticas mostram que os recursos florestais europeus estão em crescimento e que os cortes reais anuais, nas florestas europeias, estão muito aquém das possibilidades.

Contudo, existem, ao nível regional, diferenças significativas:

O Norte e Noroeste da Europa (Escandinávia, Reino Unido), tendem a usar o seu potencial florestal nos limites das respectivas sustentabilidades.

A Europa Central e de Leste, incluindo as áreas de montanhas, mostram uma significativa subutilização.

Os países do Mediterrâneo (com excepção do Norte de Portugal e o Noroeste da Espanha), devido a razões climáticas e históricas, praticam cortes ligeiramente abaixo das possibilidades.

A produção de madeira (rolaria), na Europa, é 578 milhões de m³, e o consumo é 543 milhões de m³

A produção de madeira (rolaria), na Federação Russa, cresceu dos 150 M m³ em 2005, para os actuais 170 M m³, o que representa 1/3 da produção total europeia e 10% da produção mundial. No entanto, este número é, somente, metade do praticado em 1990.

O consumo de madeira para energia, na UE a 27, crescerá dos 346 milhões de m³ em 2010 para os 566 milhões de m³ em 2020 e atingirá 749 os milhões de m³ em 2030.

A procura de madeira em toros para serração, pasta para papéis e painéis, crescerá entre 15% (cenário conservador) e 30% (cenário possível) entre 2010 e 2030.

Contudo, em comparação com o uso de madeira para energia, a partilha de mercado da madeira para usos “mais nobres”representa cerca de 55% em 2010, mas decrescerá para 44% em 2030, dado que os consumos de madeira para energia crescerão mais rapidamente, dados os compromissos políticos.   

O potencial de mobilização de madeira (UE a 27) será, em cenários realistas, de 686 M m³ em 2010 e poderá oscilar entre os 581 M m³ e os 839 M m³ em 2030. Estes, tendo em conta as limitações ditadas por recomendações políticas de natureza ambiental, técnicas e sociais.

Note-se, ainda, que os resíduos florestais e os resíduos industriais (p. ex. da sofisticada industria de serração), representam uma fatia importante (1/3) na oferta de fibras de madeira.

De qualquer modo, o actual quadro de oferta/procura, permite assegurar que pode ser mobilizada madeira suficiente com origem nas florestas europeias entre 2015 e 2025, obviamente, dependendo dos cenários de avaliação/previsão.

O que pode criar uma situação de ruptura é a manutenção dos volumes de consumo de madeira para energia, que forçarão uma quebra no abastecimento às industrias madeireiras. Aqui, as soluções apontadas passam pelas plantações de espécies de rotações curtas, bem como por importações. 

A suficiente disponibilidade de madeiras para o abastecimento é uma questão decisiva, quer para a continuação do desenvolvimento destas indústrias, quer para as áreas rurais.

A floresta portuguesa ocupa a 12ª posição na área florestal da EU.


3. A preocupante situação relativa às “florestas”existentes:

A aplicação de uma política florestal racional deve assumir, como prioritária, a consolidação das florestas existentes o que, no caso português, merece particular atenção, face à combinação da profunda degradação da maioria dos solos, com o quadro desfavorável de um clima em mudança.

 A eficácia financeira dos investimentos, a direccionar a estes espaços, aonde se justificar, exige toda a prudência.

De facto, relativamente aos povoamentos estabelecidos, a ajuda ao incremento da quantidade e da qualidade dos recursos florestais economicamente mobilizáveis, bem como do aumento das produtividades e, sobretudo, das qualidades e das homogeneidades que assegurem a melhor resposta à procura industrial, bem como a redução dos custos de mobilização e de exploração, para a melhoria da competitividade da fileira silvo-industrial, deve priorizar e encorajar os investimentos, em função das maiores bacias de aprovisionamento.

Sabendo-se que as valências ecológicos e sociais são um produto derivado e, sistematicamente, garantido, de uma opção económica, a vertente mais produtivista deve e pode, genericamente, conciliar as outras valências.

A procura pela coerência e pelo respeito na utilização dos dinheiros públicos, deve vincular os investimentos às análises de custos/benefícios.

Isto, porque uma grande parte das “florestas” nacionais enfrentam as seguintes realidades:

A)  A insustentável situação de consideráveis manchas de pinhal, decrépitos, mutilados pela resina, evidenciando impressionantes instabilidades de crescimento, maioritariamente de médias e baixas dimensões e, por isso, só mobilizáveis para a “nobre” utilização em trituração, propriedade de centenas de milhares de proprietários, multiplicadas por miríades de parcelas.

Isto coloca aos decisores políticos, aos eleitos locais, em particular e à nossa silvo-indústria em geral, um sério desafio, que só será vencido com o envolvimento de todos os actores e com grande lucidez em engenharias financeiras.

Nestas situações, estes povoamentos florestais, merecerão um programa específico, que combine a motivação do segmento da indústria de trituração, com o interesse dos proprietários, no sentido de evitar a importação de material semelhante e possibilitar a reconversão de muitas das excelentes estações, com a mesma ou outras espécies, mas com silvicultura específica.

Se assim não for, perpetuar-se-á a principal produção destes povoamentos, a processionária, o nemátodo e a torcedura e, anémicos de vigor e de acréscimos, nunca revelarão as qualidades tecnológicas da sua madeira, nem os seus produtos terão expressão económica significativa.

B)  A degradação de consideráveis áreas de montados de sobreiro e de azinheira, que têm como causas subjacentes mais próximas os excessos de uso dos solos e penúrias hídricas, que desenvolveram já processos de tamanha fragilização que, a não serem invertidos com adequadas silviculturas, comprometerão, definitivamente, as insubstituíveis valências sociais, ambientais, económicas e culturais destes preciosos “ecossistemas.”

“Nesta fileira, para além da degradação quantitativa e qualitativa do montado de sobro, que pode pôr em risco a sustentabilidade do abastecimento desta matéria-prima, a forte especialização da produção num único produto final, a rolha de cortiça, que representa 2/3 do valor das exportações de cortiça, faz com que o sector veja com preocupação erosão das vendas de rolha, designadamente pelo aparecimento de produto sucedâneos (rolhas de plástico e cápsulas de alumínio) neste nicho do mercado”. (Estratégia Florestal)

C)   Quanto à Eucaliptus globulus, tida geralmente como uma cultura de árvores, apesar de ser uma espécie claramente ganhadora, por mérito e agressividade próprios das empresas de produção de pasta e de papel, não escapa, nas situações de edafoclimatologia menos favoráve, aos problemas de pragas e doenças e de baixas produtividades. Contudo, os problemas que se colocam à cultura da Eucaliptus globulus, sendo preocupações que têm, sobretudo, sede própria naquelas empresas, através de investimentos fortes em I&D, com relevo para o melhoramento genético e a criação de clones mais ajustáveis às diferentes estações, os interessantes retornos financeiros para produtores florestais e para a respectiva silvo-industria e o peso que representa nas exportações nacionais, continuam a fazer desta espécie “vedeta”, uma boa opção para proprietários e produtores florestais.

Cultivar árvores é uma prática florestal. Este deve ser um exercício de utilização de terras como a agricultura.
Obs. Face à necessidade que o nosso país tem de importação de madeiras ditas de qualidade, parece útil desenvolver ensaios de adaptação, dentro do conjunto das cerca de 700 espécies de eucaliptos, sobretudo destinadas às terras secas e, para além da Eucaliptus globulus, que ajudem a minimizar os custos de várias centenas de milhões de euros daquelas importações.

Igual atitude se defende para a produção de dendroenergia.

D)  Relativamente ao pinheiro manso, impõem-se uma reflexão cuidada, pela expansão que está a ter fora do seu óptimo ecológico e de alguns “nichos” interessantes para a produção de fruto. Não se discutindo o seu interesse e o papel único, para muitas terras secas e de condições ambientais precárias, onde as precipitações são sazonais e errática a sua distribuição, como elemento seguro para tornar a paisagem mais verde e, porventura, espécie “clímax” de alguns espaços mediterrânicos duvida-se, contudo, da escala do seu avanço em substituição de muitos milhares de hectares de insucessos de sobreiro, amarrados que ficam a compassos, densidades e silviculturas para produção de lenho, já que a edafoclimotologia destas estações o inibirá da produção de fruto.

E)   O papel de outras folhosas foi frequentemente secundarizado, pela maior importância económica e social das espécies referência das “florestas” portuguesas – pinheiro bravo, sobreiro, Eucalipto globulus e azinheira.

Contudo, se não tivesse havido intervenção de outros factores – condições de solos, clima, topografia, altitude e actividades antrópicas, de que a agricultura é o exemplo mais negativo, o que porventura aconteceria, num processo liderado pela natureza, haveria uma presença mais modesta de resinosas e um domínio mais forte de florestas de fagáceas que, para além do sobreiro e da azinheira contaria, provavelmente, com a faia, o carvalho alvarinho (Q. robur),o carvalho negral (Q. pyrenaica) e o carvalho cerquinho (Q. faginea), baixa expressão do castanheiro e florestas de zonas ribeirinhas e de fundos de vales, negrilho, freixo, amieiro e salgueiro.    

No presente quadro e, apesar das limitações edafoclimáticas actuais do país, que condicionam a expressão que as folhosas tiveram no passado (com excepção do carvalho negral), tem-se verificado um esforço, iniciado pelos Serviços Florestais e ex- Fundo de Fomento Florestal, há dezenas de anos, sobretudo direccionado para as folhosas “nobres” nos espaços comunitárias e públicos e, mais recentementemente, generalizado às áreas privadas, no âmbito do Projecto Florestal Português (Banco Mundial) e nos instrumentos financeiros com origem na União Europeia.

Infelizmente, o esforço financeiro público, no estabelecimento de outras folhosas não responderá nem às expectativas de quem sonhou ver minimizado o valor das importações de folhosas nobres, nem aos apelos nacionais, da União Europeia e internacionais, suportados por acordos e convenções, com destaque para a Convenção sobre a Diversidade Biológica para a inversão do empobrecimento da biodiversidade, melhoria das paisagens rurais, enfim, do enriquecimento de ecossistemas florestais.

O clamar, sobretudo pelas sociedades mais urbanas, e a imprudente bondade ecológica, mais alicerçada na ignorância do que no rigor técnico e científico, de responder a este apelo de repor, num “estalido de dedos”, as míticas florestas clímax, merece ser esclarecido e repensada a tentação de correr riscos, no “forcing” de estabelecer exigentes folhosas em estações fragilizadas pela degradação dos solos e pela penúria hídrica. Os milhares de hectares de insucessos de espécies ditas nobres, muito exigentes, como a cerejeira, o carvalho americano, o acer pseudoplatanus e a nogueira, aconselham a inversão destas tentações.

Deve ser, sempre, relevado, que a dimensão do fenómeno visível da degradação das florestas induz uma espiral de destruição contínua do seu suporte solo (recurso não renovável), que se desenvolve numa “alarmante paz”, porque não é visível, logo não desperta a atenção de decisores, nem de técnicos, mas compromete o futuro das plantas, das culturas, das florestas, dos animais e das pessoas.

Como uma desgraça nunca vem só, a posição de Portugal no quadro da EU, relativa à degradação das florestas e, segundo o recente relatório do Pan-European Quantitative Indicators for Sustainable Forest Management, é a de ter:

        A mais elevada % de área de florestas com danos (24,5 por cento) e Itália (22,5 por cento), seguida pela Suécia (12,2 por cento), Hungria (12,1 por cento), Chipre (5,8 por cento) e Lituânia (4,7 por cento). Nos restantes 14 países a proporção de florestas com danos variou de 3,4 por cento (Croácia, Bulgária) a menos de 0,1 por cento (Finlândia, Islândia, Ucrânia).

        A maior % de área de florestas percorrida por pragas e doenças (20 %), Roménia (20 %) e Itália (10 por cento).

        A maior área de florestas percorrida pelo fogo (104 000 ha, ou 3 % área florestal total), enquanto na Itália, Espanha e França, menos de 1 por cento da área florestal foi queimada.


4. A expansão das florestas

Apesar da confortável situação europeia de relativa abundância de madeiras, (recorda-se que a Europa como um todo só abate cerca de 62% das suas disponibilidades), a verdade é que os vários cenários produção/consumo admitem que, a partir de 2030, não será sustentável assegurar o abastecimento em madeira (dentro da EU a27) para a indústria e para a produção de energia, se não forem tomadas medidas adicionais.

Obviamente, no que a Portugal respeita, a principal resposta passa por novas plantações.

Contudo, o diálogo internacional iniciado nos últimos 20 anos, modificou a percepção do papel da produção na gestão florestal, facto que é particularmente importante no caso português, face à realidade da degradação da maioria dos solos nacionais e a um clima em mudança, alteração ou variação. 

Dos cerca de 2 milhões de hectares, potencialmente disponíveis para novas arborizações/rearborizações, uma boa parte daquelas famílias de solos, encontram-se profundamente degradados, sobretudo nas faixas de influência de climas mais continentais e mediterrânicos, pelo que, face aos cenários conhecidos de mudanças climáticas, merecem, ou novas abordagens silvícolas ou, mesmo, ser-lhe erradicada a tentação de intervenções de silvicultura iminentemente produtivas.

O Silvicultor deve ter ambições realistas quando intervém no contexto do “jogo livre” da natureza porque:

        Não basta arborizar ou rearborizar para tornar a paisagem mais verde; isto, a Natureza faz melhor e a custo zero.
        A eficácia financeira dos investimentos, no contexto deste encontro e de procura de competitividade do sector florestal português, obriga a produzir, em tempo mínimo, o melhor material lenhoso e ao menor custo.

De facto, num processo de arborização/rearborização liderado pela Natureza, esta seleccionará as árvores mais resistentes e não as mais aptas a fornecer “folheado” ou janelas: a fibra com tensões não é uma desvantagem na luta pela vida, assim como os ramos grossos e numerosos representam, na sobrevivência, uma vantagem.

A sagacidade, o silvicultor deverá jogá-la na selecção das espécies mais aptas para fins determinados do produto inscrito: Opção por espécies com as melhores aptidões tecnológicas intrínsecas - na medida do que a estação permitir.

A escolha das espécies de arborização, ou de uma variedade geneticamente melhorada, deve ser pensada em função da estação e da sua aptidão para expressar as qualidades ou os defeitos das árvores (crescimento, estabilidade, bifurcação, produção de ramos,...).

O que nunca pode esquecer-se, é que:

      A terra é um bem escasso, pelo que o seu uso racional é decisivo para a existência humana, face ao imparável processo de degradação dos solos e às emergentes preocupações ambientais globais.

        As dicotomias: protecção / conservação, utilização / desenvolvimento, folhosas / resinosas, espécies indígenas / exóticas..... Enfim, árvores boas / árvores más devem, na realidade portuguesa, ser, caso a caso, bem analisadas.

Depois, como alguém disse: “Um bom produtor de árvores pode ser um bom produtor ambiental”.

Assim, as opções de uso dos solos devem ser decididas em função do bom conhecimento:

        Dos cenários de produção/consumo.
        Dos acordos e convenções a que estamos vinculados.
        Dos C&I da GFS.

Depois, a sensibilidade para a conciliação, sempre que possível, dos interesses em presença, prevendo as consequências das opções de hoje, poderá ser balizada pelos objectivos seguintes:

A. Em função dos cenários de previsão de mercados:
  • o   Produção de madeira de qualidade.
  • o   Produção para trituração
  • o   Produção para energia.


B. Em função das convenções e acordos a que Portugal está obrigado (GFS, Aproximação ao ecossistema, GF próxima da natureza……)
  • o   Reconstituição de uma paisagem (pós fogo)
  • o   Protecção/conservação/reabilitação de solos, água, biodiversidade...............
  • o   Constituição de povoamento menos combustível     
  • o   Reconstituição de flora favorável à fauna
  • o   Combinação de Objectivos...

Limitações:
  • o   Relativas à estação (solos, clima...)
  • o   De natureza técnica (declives, pedregosidade, impermes....)
  • o   Ligadas à vegetação existente
  • o   Ligadas à fauna
  • o   Socioeconómicas (outros pontos de vista)
  • o   Fundiárias.


A variante “0”/Pressões sobre o espaço não arborizado/ (arborização em pleno, em faixas, bosquetes de disseminação....)

Impactes - Risco de incêndio acrescido, evolução da flora e da fauna, alteração das práticas de uso do solo, oposições/projecto exemplar.

Obs. Face à presente possibilidade de um clima em mudança, alteração ou variação, este facto deve constituir, sempre, uma variante de elaboração e de análise de qualquer projecto florestal.


5. Justificações económicas (breves) para os investimentos florestais em solos degradados.

É, geralmente, assumido que o investimento florestal em plantações deve ser racionalizado, em função do potencial de produção e decrescer das terras húmidas para as terras secas.

Os responsáveis pelo processo de gestão de qualquer sistema produtivo concentram-se, sobretudo, na manutenção da produção, o que não é, obrigatoriamente, sinónimo de manutenção da fertilidade do solo e da sua conservação.

A AEA reconhece:
A degradação do solo é maior ameaça à sustentabilidade do recurso terra da Europa, podendo comprometer a capacidade da agricultura europeia para se adaptar com sucesso às mudanças climáticas. Os solos europeus, estão actualmente a sofrer uma série de problemas de conservação, incluindo elevadas taxas de erosão, poluição agro-química, contaminação dos lençóis freáticos, declínios dos teores de M.O. Estes factos devem-se a práticas de gestão da terra e estão a agravar-se pelas mudanças climáticas e pelo aumento da incidência de acontecimentos climáticos extremos.

É, genericamente, reconhecido que as actividades florestais, desde que respeitadoras das boas práticas, são amigas do ambiente, em contraste com a agricultura que é, muitas vezes, uma actividade degradadora.

Contudo, o solo, ameaçado nas suas funções de produção e ambientais, quer pelos processos erosivos, quer pelos atentados à sua estrutura e ao seu equilíbrio biológico, não deve ser, somente, considerado como um suporte de culturas, mas sim como um património a preservar ou, se necessário, reabilitar.

De facto, porque a degradação dos solos não é, geralmente, tida como “um desastre”, subestimam-se os seus impactos socioeconómicos e, raramente, é contabilizada como uma questão económica.

Depois, sabendo-se que as mudanças climáticas extremas (como secas, tempestades e inundações) agravam a degradação dos solos, é decisivo reconhecer-se que as secas repetidas, a degradação dos solos, a desertificação, as perdas de biodiversidade e as mudanças climáticas, são temas interligados e duas faces da mesma moeda.

Travar a degradação das terras é muito mais barato do que reabilitá-las.

É assim que o declínio da produtividade e a degradação do recurso solo arrasta consigo movimentos migratórios internos, das populações marginalizadas pela pobreza e a degradação ecológica, em busca de melhores condições de vida nas grandes cidades, noutras regiões ou países, provocando as tensões sociais que bem conhecemos.

De qualquer modo, mesmo nestas situações, a florestação perfila-se como a via economicamente mais eficaz e ambientalmente mais racional para a inversão do fenómeno da degradação dos solos e de minimização da desertificação, desde que praticada, onde se justificar, com objectivos e silviculturas ajustados a estas realidades. Aqui, só soluções economicamente viáveis, ambientalmente racionais e socialmente justas, permitirão, ainda, expressar, no espaço Europeu, as vantagens comparativas do potencial da produção florestal de muitas estações do território nacional relevando, em cada situação, o maior peso da sua natural aptidão.

A abordagem mais económica dos investimentos florestais em solos degradados, obriga à difícil tarefa de conciliar o clima (que não controlamos), com as intervenções nos solos (que podemos controlar). Ou seja, obriga à avaliação contínua da resposta dos habitats das espécies vegetais e animais, da biodiversidade, da maior aleatoriedade da pluviometria e redução directa das reservas de água, face ao processo de aumento da temperatura.

As ameaças resultantes das mudanças climáticas e os riscos que se colocam à quantidade e à qualidade da água, bem como às paisagens e os danos anualmente provocados em infra-estruturas, que têm como causa a  ausência de florestas, são argumentos de peso que justificam a ajuda pública à protecção das florestas, à sua reabilitação e à rearborização, mesmo nestas situações.

Contudo, deve reconhecer-se que, numa abordagem meramente financeira, é ilusório pensar-se em rearborizações e arborizações somente para reabilitação de solos, pelo que é fundamental colocar, nesta actividade, alguma expectativa económica, combinando a conservação e a reabilitação com alguma produção.

Cenários possíveis para a produção florestal e tentativa de previsão de mercados.

Sendo um delicado exercício o estudo das perspectivas do equilíbrio oferta/procura de madeira e seus produtos a nível mundial, pelo longo prazo que caracteriza o sector, este exercício é importante para a ajuda na hierarquização de decisão dos investimentos em beneficiação, expansão e valorização em matéria florestal

Este estudo poderá desagregar-se:

Quanto à procura (nas três grandes categorias de utilização)
§  Madeira para energia:
§  Madeira para trituração:  
§  Madeira para a construção, móveis...

Quanto à oferta
§  Madeira para energia
§  Madeira para trituração:  
§  Madeira para a construção, móveis...

As madeiras de grande qualidade das regiões temperadas deverão encontrar, (estão já a encontrar) com facilidade, consumidores.

Quanto aos preços
§  Madeira para energia
§  Madeira para trituração:  
§  Madeira para a construção, móveis...
  
Com as necessárias reservas, a maioria dos actores da fileira florestal está de acordo em que, qualquer que seja a evolução da procura, as produções que parecem mais promissoras são, por um lado, as madeiras para trituração produzidas em plantações intensivas e, por outro lado, as madeiras para construção e mobiliário de alta qualidade. 

A madeira de qualidade média e inferior, menos atractiva, de mobilização mais difícil, porque muito pequena, poderá ser invendável.


6. As fragilidades nacionais

No caso português, os cenários atrás referidos são pouco tranquilizadores, sobretudo para a principal espécie da floresta nacional de produção - o pinheiro bravo - dadas a sua média/baixa qualidade, com alguma excepção para as áreas do domínio público e comunitário.

Note-se que, num quadro florestal equilibrado, a produção de madeira de qualidade representa 90% dos retornos financeiros da floresta, contra 10% da madeira para trituração.

O declínio económico, social e mesmo ambiental do nosso mundo rural e o facto de os sectores florestais, na maior parte dos países Europeus (particularmente em Portugal) estarem, compreensivelmente, apreensivos e os actores florestais públicos e privados enfrentarem tantas frustrações quanto foram as suas motivações, há consciência de que a população mundial continua a aumentar, que as solicitações em bens e serviços acompanham este crescimento e que poucas pessoas, individualmente ou como nação, estão dispostas a renunciar aos níveis de consumo que alcançaram.

Está hoje, claramente, considerada a questão florestal como transectoria,l sobretudo no que respeita à articulação entre a floresta e a agricultura, a floresta e o desenvolvimento rural, a floresta e a desertificação e a floresta e o ambiente global.

Depois de relevarmos o papel das florestas nas múltiplas funções da estabilização e melhoria do ambiente global, não devemos esquecer-nos que a floresta também produz madeira. Um apelo ao reforço de utilização deste material, nestes tempos de preocupação, para o emprego e para o ambiente global, deve ter um duplo interesse económico e ecológico

A abulia de sectores da Administração Pública, a falta de protagonismo dos proprietários florestais, a impreparação de muitos profissionais da floresta, o atrevimento de outros, a banalização de uma boa parte do ensino e da formação profissional e a falta de objectividade de alguma I&D florestal, a não serem urgente, e lucidamente corrigidas, esgotarão o actual sistema florestal nacional, comprometerão ainda mais a esperança de, pelo menos, sermos um país de florestas, desacreditarão as possibilidades de gestão florestal sustentável e certificações, dispensarão a existência de uma classe de silvicultores e florestais e não teremos para oferecer senão subprodutos!

Há, de resto, algum caminho já percorrido neste sentido, conforme identificado na Cimeira da Terra e (cito), “Os organismos florestais não ocupam, geralmente, mais que um lugar modesto na hierarquia das instituições, ou seja a absorção das autoridades florestais no seio de estruturas maiores e de outros factores contribuem para o enfraquecimento do sector florestal impedindo-o de ter uma influência sobre as políticas e prioridades florestais”, (fim de citação).

Lamento acrescentar, à dimensão da crise nacional, mais esta preocupação relativa à situação do nosso potencial recurso renovável mais importante – a floresta – mas, dado que, para além da sua importância económica, a perpetuação do actual estado de coisas arrastará, para a situação de colapso, não só a nossa silvo-indústria, como comprometerá o papel decisivo que deverá desempenhar na ajuda à inversão dos sérios problemas que se colocam ao ambiente global, bem explicitados na nova família de convenções das Nações Unidas (Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Desertificação) que Portugal subscreveu, bem como pelo papel activo que o nosso país desempenhou no Processo Pan-Europeu, não é desculpável manter a presente abulia nacional, de proprietários e produtores florestais, das instituições com responsabilidades no sector florestal, da I&D e, sobretudo, dos decisores políticos.

Finalmente, as florestas, naturais ou plantadas, continuarão a existir para disponibilizarem a imensa variedade de produtos, lenhosos (só o produto madeira é utilizado em mais de 10.000 usos distintos) e não lenhosos, dentro da sustentabilidade dos ecossistemas, cumprindo, simultaneamente, o importante papel ecológico, social, cultural e económico indispensável ao bem-estar das sociedades modernas, sem comprometer as previsíveis necessidades das gerações futuras.

Por isto, pela oportunidade, e pelo que se propõe fazer, felicito a excelente organização da Acréscimo.


Obrigado.


Fernando Mota (Eng.º Silvicultor)
ISA, 14 de Setembro de 2011

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