quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

OS FOGOS, A DESERTIFICAÇÃO, E AS MEDIDAS PARA HOJE E PARA O FUTURO

Nunca fazemos a tempo, o que é necessário e que podemos e devemos fazer, sem mais discussões, estudos e comissões, que por si só nada resolvem. Estão quase todos os responsáveis políticos, estudiosos e comentadores, a dar opiniões para o futuro, como se o acontecimento que tanto nos comoveu, tivesse acontecido no final do verão e uma vez resolvido, teremos todo o tempo para implementar então novas medidas. A nossa atitude não poderá deixar de ser de raiva, perante semelhantes “responsáveis” que temos, este pesadelo que estamos a viver, tem todas as condições para se repetir nos próximos meses, embora esperemos com outra dimensão.

Este desastre demonstrou claramente, que foi na tentativa de fuga, que 30 pessoas morreram nos seus carros e mais 17 encontrados na mesma zona. Não é necessário, portanto mais “estudos”, temos já hoje dados e Leis concretas, que nos permitem agir de imediato em acções que nos permitirão reduzir substancialmente as consequências funestas de novos incêndios. Referimo-nos claramente ao corte de todas as árvores até 10 metros das bermas (como diz a Lei) das estradas, quando a floresta vem até às estradas. Este trabalho deve ser feito fundamentalmente, nas estradas que devem ser sinalizadas, como de fuga em caso de catástrofe, Vila a Vila, Aldeia a Aldeia este trabalho deve ser começado de imediato.

Não estamos a sugerir, que isto seja feito em todo o lado, mas sim onde é vital à defesa de vidas, igualmente não há necessidade de ser feito, quando por detrás de uma fileira de árvores que ladeiam uma estrada, está apenas um normal campo agrícola. Não poderemos mais aceitar, que num futuro próximo, alguém venha a morrer porque a sua fuga o conduziu ao “inferno”.

Mas para o futuro, não é possível resolver o problema dos fogos, unicamente ordenando a floresta e dimensionando-a por forma a ser rentável, temos de ter em conta tudo o que hoje já sabemos do futuro de amanhã, a saber; Temos de combater a desertificação, voltando a repor em raios máximos de 15 quilómetros, Escolas, Juntas de Freguesia, Centros de Saúde, transportes colectivos, pequeno Comércio, etc., sabemos que a reversão não é fácil, nem que tudo poderá voltar a ser possível, mas não temos qualquer dúvida, que estas populações estão privadas, dos mais elementares meios, incluindo a defesa da própria vida.


A fuga do interior par as cidades em busca de trabalho, vai deixar de fazer sentido, com as novas formas de criar riqueza (inteligência artificial, robótica, etc.), vai seguramente ter de haver um regresso parcial ao campo, mas terão de haver outras condições.

Existem soluções, para além de um novo aproveitamento agropecuário, temos o aproveitamento de uma das energias renováveis, que são as centrais de biomassa, que se “alimentam” precisamente dos resíduos provenientes da limpeza do parque florestal. Pensamos que o podemos fazer em Portugal, em unidades de pequena dimensão que se alimentem das limpezas num raio não superior a 30 km, de acordo com os proprietários ou sempre que estes não procedam a essa limpeza, as Câmaras em colaboração com as respectivas centrais de biomassa, se encarregariam dessa limpeza.

Podemos começar de novo a criar condições, que permitam aos habitantes dessas aldeias, aos seus filhos, e a muitos que já não encontram trabalho nas grandes áreas urbanas e industriais, a procurarem aí uma nova forma de vida. Teremos então de realizar uma grande reforma fiscal, para todos que nelas vivam, trabalhem ou tenham os seus negócios.

Num sector dependente, do sol, da chuva, do gelo, das pragas e calamidades, o governo aplicou esta carga fiscal imoral, que lhe terá rendido, umas poucas dezenas de milhões, em troca temos uma catástrofe ecológica, com consequências imprevisíveis para as pessoas e seus animais, e com custos económicos de muitas centenas de milhões de euros.

Os autarcas dos concelhos essencialmente agrícola devem, passar a serem um aglutinador e catalisador da iniciativa local, fomentando a implementação de “parques agrícolas”, promovendo a atracção de potenciais investidores, produtores, proprietários e redes comerciais, reorientando os investimentos para a produção no sector primário, preferencialmente vocacionado para o mercado global com especialização técnico produtivo em produtos específicos, constituindo uma mais-valia para a inversão da decadência soco-económica do interior do país.

Estas são algumas das medidas futuras, que têm de estar presentes na discussão sobre o combate ao flagelo dos incêndios, sob pena de não debelarmos o problema, mas para hoje há que proceder à limpeza dos caminhos de fuga, para quando a situação o impõe.



José Manuel Veludo
Mestre em Sociologia

(Publicado a 20 de Junho de 2017 na página do autor no Facebook)