sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O desfoque e o enfoque sobre os incêndios florestais.

O poder político democrático tem insistido em “anti-inflamatórios”, tem misturado até distintos princípios ativos, mas se os Portugueses quiserem atenuar o problema dos incêndios rurais terão de promover uma operação cirúrgica profunda.



1.     O desfoque.

A aposta no combate pode levar alguns a pensar que tal se traduz em votos, pode até contribuir para o PIB. Todavia, a capacidade física humana tem limites, como se tem visto também este ano, especialmente na Serra do Caramulo. O cansaço progressivo produz maior risco de acidente, por muito boa que tenha sido a formação de base dos bombeiros (se é que esta é realmente boa para o centro de operações em questão). Quantas mais vidas se sacrificarão para se adotar uma estratégia integrada de Desenvolvimento Rural?

2.     O enfoque.

As famílias e as comunidades rurais que detêm cerca de 90% dos espaços florestais portugueses têm de ser socialmente incentivadas, especialmente as que detêm tais espaços em regiões onde domina o minifúndio, as mesmas áreas que ardem violentamente ano após ano. É certo que, com o êxodo rural, estas pessoas se traduzem em cada vez menos votos rurais, mas o País também tem ficado cada vez mais pobre (endividado) sem a sua presença produtiva no interior rural português.

O apoio às famílias e comunidades rurais não pode ser um mero apoio financeiro, p.e. através de subsídios a fundo perdido, na prática uma transferência do problema para os contribuintes, mas sim através de medidas políticas de promoção de negócios rurais sustentáveis, inseridos nos princípios da Economia Verde (já que a terra nos foi deixada pelos nossos pais, mas é pertença dos nossos filhos). O que é rentável é protegido, pois coloca “comida na mesa”.

Todavia, a rentabilidade anunciada sobre o setor florestal português, nos números que alguns politiqueiros gostam de propagandear, está mal distribuída. Sem rentabilidade nos espaços rurais fomenta-se o abandono da gestão dos solos (como se sabe, esmagadoramente na posse de famílias e comunidades rurais), o que tem por consequência um elevado impacto na propagação dos incêndios florestais. Segue-se o despovoamento, depois a desertificação. O País não é suficientemente abastado para poder dar-se ao luxo de desperdiçar o seu território, nem mesmo de o “concessionar” a atividades extrativistas, atividades essas que mais tarde os mais cedo deslocalizarão a sua atenção para países que lhes sejam mais proveitosos. Infelizmente, o nosso território não é passível de deslocalização (a Jangada de Pedra é apenas ficção).

Urge, por isso, definir (e concretizar) um plano integrado de Desenvolvimento Rural, no qual os espaços florestais serão parte integrante a par de outras atividades económicas e de conservação da Natureza.

Paulo Pimenta de Castro
Engenheiro Florestal
Presidente da Direção da Acréscimo – Associação de Promoção do Investimento Florestal


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