Os dados estatísticos demonstram a tendência de aumento da área
ardida em eucaliptal com a expansão do eucalipto em Portugal. Alguns podem
argumentar tratar-se de uma relação esperada. Todavia, tal argumento revela
irresponsabilidade, quando se verifica que cerca de 80% da área ocupada por
eucalipto no país está sujeita a uma deficiente gestão. Esta última revela-se
não só no plano técnico, visível através dos dados disponíveis do Inventário
Florestal Nacional, mas também nos planos financeiro e comercial. As
consequências alastram ao plano económico, social e ambiental.
Perguntar-se-á, mas o país não pode produzir papel de escritório
de qualidade superior? Pode e tem (ainda) condições para o produzir. Mas, terá
de o fazer em condições de responsabilidade económica, social e ambiental. Não
tem sido assim! A actual distribuição da riqueza ao longo da fileira papeleira
tem sido prejudicial à sociedade. Urge, pois, que sejam tomadas medidas de
regulação da actividade, para que num futuro bem próximo não se criem entraves
sociais à mesma, não se deprecie ainda mais o Território, nem se aumente o
risco para as populações rurais, potenciando ainda mais o seu êxodo.
Com efeito, Portugal tem convivido mal com ilusões do tipo “petróleo
verde”, a do eucalipto não é excepção. Também no caso do pinhal bravo, a aposta
principal em produtos de baixo valor acrescentado, como as paletes e as
pellets, não é potenciadora de uma adequada gestão, condicionada está pelo
rendimento silvícola. No caso em concreto, pouco mais resta à fileira do
pinheiro bravo do que a adopção de medidas similares às da fileira do calçado.
Talvez a oportunidade passe por apostar no fabrico e comercialização de
mobiliário de qualidade, entre outros, destinadas a Xangai ou a Los Angeles.
O aumento do rendimento silvícola é condição necessária à
diminuição do risco de incêndio. Neste contexto, a par das medidas que incidem
sobre a propriedade rústica, tem de ser tomadas medidas ao nível dos mercados,
designadamente as que potenciem a concentração da oferta e uma adequada
formação dos preços.
A diversidade de opções que o território e o clima potenciam tem
de ter uma adequada resposta, seja na diversificação da produção de bens,
necessariamente de qualidade superior, seja em serviços prestados a partir do
espaço rural. Essa resposta, num país com um peso esmagador da propriedade
rústica sob gestão privada, tem de evidenciar resultados concretos ao nível do
rendimento familiar. De outra forma, será potenciado o abandono da sua gestão,
sendo que esta situação tem gerado reflexos muito negativos não apenas nos matos e no
pinhal bravo, mas igualmente no eucaliptal. Até o aproveitamento das áreas de
matos pode ser uma opção financeiramente interessante, designadamente para a
produção de essências para as indústrias farmacêutica e de perfumaria. Assim
hajam condições que potenciem a negação do ócio. Estas centram-se ao nível da
valorização do rendimento rural. Neste domínio, a inexistência de um serviço
nacional de extensão não facilita as necessárias mudanças.
A aposta em monoculturas em Portugal, muito concretamente na de
eucalipto, tem, a par dos problemas ambientais que ocasiona, um impacto
negativo no plano económico e no social. Portugal não é um país para
monoculturas, saímos todos mais pobres com esta opção.
Paulo
Pimenta de Castro
Presidente
da Direcção da Acréscimo, Associação de Promoção ao Investimento Florestal
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