terça-feira, 10 de maio de 2016

Sugestão para contrariar a expansão da área de eucaliptal de risco em Portugal

O 6.º Inventário Florestal Nacional, que tem como referência o ano de 2010, aponta para a existência de 812 mil hectares de eucalipto em Portugal. Contudo, uma análise da Semapa, de 2006, mencionava a existência de 817 mil hectares com esta espécie no país.

Entre outubro de 2013 e julho de 2015, segundo os indicadores do Regime Jurídico das Ações de Arborização e Rearborização (RJAAR) até agora disponíveis ao público, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) autorizou ou a este foram comunicados mais de 3 mil novos hectares de eucaliptal.

Um relatório das Nações Unidas, refere que a área de plantações florestais em Portugal, referente a 2015, atinge os 891 mil hectares.

Ainda de acordo com dados do Inventário Florestal Nacional, cerca de 80% das plantações de eucalipto em Portugal apresentam deficiência na sua gestão.

Ou seja, se por um lado existem dúvidas quanto à expressão da área de plantações de eucalipto em Portugal, não restam grandes dúvidas sobre a sua deficiente gestão, a sua baixa produtividade e sobre os crescentes riscos que tem aportado.

Entre 2000 e 2011, em cerca de 43% das áreas de povoamento florestais onde ocorreram incêndios dominava o eucalipto.

Apontados como caso de exemplo, como se comportam as empresas da indústria papeleira no que respeita às áreas rústicas de que são detentoras? Face ao aumento da capacidade industrial, as mesmas optaram por uma maior expansão de áreas próprias de eucaliptal?

Entre 2002 e 2011, a área na posse de empresas da indústria papeleira contraiu em mais de 48,3 mil hectares. Só a área ocupada pelo eucalipto corresponde a 68,3% do total, ou seja, estas empresas fizeram contrair a sua área de eucaliptal em mais de 33 mil hectares. O mesmo será dizer que, apesar do aumento da capacidade industrial em curso, estas empresas distanciaram-se da área de maior risco da sua atividade silvo-industrial.

Na base da decisão de contração da área de eucalipto na posse das empresas da indústria papeleira estiveram critérios de avaliação de rentabilidade. O facto faz alias todo o sentido, mais ainda do ponto de vista de um agente privado.


As florestas em Portugal são detidas em 98,4% por entidades não publicas, esmagadoramente por famílias e sociedades familiares, por comunidades rurais e por empresas industriais. Assim sendo, não há motivos para, no âmbito da validação de investimentos em arborização e de rearborização, realizada pelo ICNF, sujeitar tais intenções apenas a uma análise técnica. Tal como dão exemplo os agentes industriais, na validação dos investimentos florestais, sejam no âmbito do RJAAR, mas também no PDR 2020 ou no Fundo Florestal Permanente, há que sujeitar tais intenções a uma análise financeira, a uma análise comercial e, quando justificável, pela dimensão dos investimentos, a análises económica, social e ambiental.

O modelo para contrariar a expansão do eucalipto em Portugal não passa por nenhum modelo complexo, de criação de taxas ou de impostos, mais ainda se o mesmo tiver por incidência a produção florestal, já sobejamente penalizada pela permissão de mercados a funcionar em concorrência imperfeita. Pelo contrário, o modelo deve ser simples. Para tal, basta adicionar à análise técnica no processo de validação de investimentos florestais, uma análise financeira e comercial. Desta forma, os riscos de abandono na gestão subsequente ao investimento e as suas nefastas consequências seriam substancialmente contidos.

Paulo Pimenta de Castro
Presidente da Direção da Acréscimo – Associação de Promoção ao Investimento Florestal


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