Fez no passado dia 17 de agosto, 16 anos sobre a
publicação, no Diário da República n.º 190/96 – Série I-A, da Lei de Bases da
Política Florestal (Lei n.º 33/96), aprovada por unanimidade pela Assembleia da
República.
Numa análise quantitativa à produção florestal em
Portugal, no período de 1996 a 2010, tendo em conta os dados do Instituto Nacional
de Estatística, em 1996 o Valor Acrescentado Bruto da Silvicultura (a preços
correntes) era de cerca de 0,7% do VAB Nacional, em 2010, os dados provisórios
apontam para um recuo de 0,3%, ou seja regista-se no período uma queda de aproximadamente
43%. No que respeita à análise qualitativa dos dados dos Inventários Florestais
Nacionais, registam-se, segundo os especialistas, indícios do crescimento do abandono
da gestão ativa nas áreas florestais de produção lenhosa, ao que está associada
uma maior expressão dos incêndios florestais no período, com especial impacto
nos anos de 2003 e 2005, e uma potencial mais fácil proliferação de pragas e de
doenças, com impacto hoje de longe superior ao de 1996.
Numa análise mais detalhada das concretizações após
a publicação de Lei de Bases da Política Florestal, o retrato revela uma rotunda
derrota política.
Ao nível das medidas de política florestal (Capítulo
II):
- Os planos regionais de ordenamento florestal (PROF) foram abandonados, sem alternativas evidentes, tendo-se claudicado no planeamento florestal;
- Os planos de gestão florestal (PGF) são aprovados a conta gota e têm uma expressão territorial diminuta;
- A reestruturação fundiária e das explorações florestais até hoje tem sido sucessivamente adiada;
- As iniciativas de fomento florestal têm regredido ao longo do tempo, todavia, sem uma subsequente gestão florestal, as ações de arborização ou rearborização podem ter efeitos perniciosos;
- No que respeita à conservação dos recursos silvestres proliferam, hoje como nunca antes, os danos causados pelos incêndios, mas também pelas pragas e doenças.
Ao nível dos instrumentos de política (Capítulo
III):
- A autoridade florestal nacional sofre agora nova alteração orgânica, sendo que desde 1996 esta situação já ocorreu quase meia dúzia de vezes, até hoje com uma eficiência negativa. O recém-criado Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas está já envolvido pela polémica, com a sua aparição inicial associada à “liberalização” avulsa, extemporânea e irresponsável das florestações, no caso com espécies de rápido crescimento;
- O conselho interministerial para os assuntos da floresta sempre foi um fantasma;
- O conselho consultivo florestal funcionou intermitentemente e, após tanta trapalhada legislativa, desconhece-se agora a sua sorte;
- A investigação e as estruturas organizativas dos proprietários florestais funcionam em função de fluxos financeiros instáveis, atribuídos mais numa perspetiva politiqueira de dependência do “peixe”, ao invés de serem criadas condições que favoreçam a entrega da “cana de pesca”.
No caso específico dos instrumentos financeiros, se
o Programa AGRO (1999/2006) ficou muito aquém das expectativas, o PRODER
(2007/2013) é de execução vergonhosa. O Fundo Florestal Permanente parece útil para
tudo menos para o que foi criado. Nos incentivos fiscais está-se a pensar dar
início a algo e os seguros florestais não são até hoje mais do que uma miragem.
No caso concreto do atual Governo, a Ministra
lançou em dezembro a iniciativa “Vamos plantar Portugal”. O objetivo parece ser
plantar uma árvore por cada Português, como se isso resolve-se o que quer que
seja, muito pelo contrário. Apesar de desajustada, com a recente proposta avulsa
de alterar a regulamentação das ações de arborização e rearborização, em curso
no Ministério, a iniciativa pode até vir a multiplicar por quatro o resultado
inicialmente previsto. Isto se vier a dar resposta a anunciados investimentos
empresariais da fileira da pasta e papel, mas aqui, com uma aposta parcial do
Ministério na lenhicultura e no eucalipto.
Se o Ministério não apostar claramente no
planeamento e na gestão florestal, a expectativa que gerou em poder tornar-se
num catalisador de mudança no setor florestal não passará de mais uma
desilusão. Estão disponíveis, em inúmeros estudos prospetivos, várias
metodologias para gerar ação. Importa contudo perspetivar uma mudança de
paradigma, ao inverter a tradicional abordagem a partir de
conceitos estabelecidos no topo, para uma abordagem à floresta a partir da
propriedade rústica, dos problemas concretos dos proprietários e gestores
florestais, das populações rurais. Por outras palavras, é imperioso adequar a estratégia
e a produção legislativa às condicionantes da atividade florestal, à realidade
das florestas portuguesas e aos problemas vivenciados pelos seus detentores e
gestores. Só desta forma, será possível ter sucesso na implementação de
iniciativas de redução do absentismo na gestão, na subsequente valorização
sustentável dos espaços florestais e num maior controlo dos incêndios, das
pragas e das doenças.
Paulo
Pimenta de Castro
Engenheiro
Florestal
Presidente da
Direção da Acréscimo – Associação de Promoção ao Investimento Florestal
Ex-Secretário
Geral da Anefa - Associação Nacional das Empresas Florestais, Agrícolas e do
Ambiente
Ex-Secretário
Geral da Federação dos Produtores Florestais de Portugal
(Publicado no Agroportal, em http://www.agroportal.pt/a/2012/pcastro4.htm#.UDM_b92PWrg)
(Publicado no Agroportal, em http://www.agroportal.pt/a/2012/pcastro4.htm#.UDM_b92PWrg)
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