As fileiras
empresariais são compostas por elementos interdependentes e a relação entre
estes é crucial para o sucesso de cada uma das partes. Todavia, para muitos
ganhar representa a perda de outros. Este tipo de relações é caracterizado por
serem muito rígidas, baseadas no preço e não no valor. São, deste modo,
relações adversas e não promovem o desenvolvimento equilibrado das partes.
Irremediavelmente, no final é a fileira que acaba comprometida. Segundo os
especialistas, resultados win-win apenas são alcançados através de
processos de negociação integradores e de cooperação. Ignorar este princípio
básico é comprometer o sucesso da fileira.
No âmbito
da gestão, os termos win-win, win-lose e lose-lose estão
associados à teoria dos jogos e referem-se a possíveis resultados de um jogo ou
disputa envolvendo várias partes, e mais importante ainda, em que cada parte
reconhece/compara o seu resultado em relação ao ponto de partida. Assim, um
ganho (win) acontece se o resultado de uma negociação está de acordo com
as expectativas ou é melhor do que o esperado. Uma perda (lose) refere-se a um
resultado pior do que o esperado. É a noção de expectativa criada que determina
o ganho ou a perda num relacionamento entre partes. São as seguintes as abordagens
aos relacionamentos:
Nas
fileiras silvo-industriais, a situação de subaproveitamento e de sobre-exploração
dos recursos florestais são indícios da ausência de relações win-win,
com claro prejuízo para uma das partes. Vejamos então:
1. Na
análise das Estatísticas Agrícolas 2011, disponibilizadas pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE), a balança comercial portuguesa dos produtos
florestais apresentou um “saldo fortemente positivo” no período 2006/2011.
Neste período foram registados sucessivos excedentes comerciais que evoluíram a
um ritmo médio anual de 38%. A melhoria do saldo comercial foi
particularmente acentuada nos últimos dois anos deste período, quase duplocando
entre 2009 e 2010 (+89%), aproximando-se dos 2 mil milhões de euros em
2011 (+48%, face a 2010). A taxa de cobertura das importações pelas
exportações foi de 191% em 2011, tendo aumentado 69% face ao ano
de 2006.
De acordo com o INE, em relação a 2011, as exportações de produtos
florestais mostraram-se particularmente vigorosas, tendo aumentado 21%
face a 2010. Para esta expansão contribuíram praticamente todas as indústrias
do setor, destacando-se como as principais impulsionadoras a indústria de papel
e cartão e a indústria da cortiça, que representam em conjunto 59% do
valor total das exportações de base florestal.
Comércio Internacional das Fileiras Florestais (Fonte
INE – Estatísticas Agrícolas 2011)
2. Já na análise
das Contas Económicas da Silvicultura 2010, também publicadas pelo INE, o período
entre 2000 e 2010 ficou marcado por um “declínio progressivo da atividade
silvícola”.
No que respeita ao Valor Acrescentado Bruto (VAB), em 2000 atingiu o
valor máximo da década, tendo terminado em 2010 com um valor real de -19,2%.
Ao longo deste período o VAB decresceu em termos médios anuais, -2,1% e -3,2%,
em volume e em valor respetivamente. No que respeita ao peso relativo do VAB da
silvicultura no VAB nacional, verificou-se uma perda de importância desta
atividade na economia portuguesa. Em 2000, o VAB da silvicultura representava 0,8%
do VAB nacional, tendo diminuído para metade em 2010 (-50%).
A produção florestal apresentou, entre 2000 e 2010, uma taxa de variação
média anual de -2,0% em volume e de -2,3% em valor, o que
refletiu o efeito da diminuição dos preços no produtor.
O custo dos meios de produção teve um impacto bastante negativo na
atividade florestal (+7,1%), dado que a evolução dos preços da produção
não acompanhou o aumento daqueles, em particular o custo da energia.
Índice de Preços à Silvicultura (2000=100, Fonte
INE, CES 2010)
Refletindo o comportamento da produção
e do VAB, o Rendimento Empresarial Líquido registou no período um decréscimo
acentuado, superior a 250 milhões de euros.
Rendimento Empresarial Líquido (Fonte INE, CES
2010)
A análise
conjunta dos dados publicados pelo INE revela, ao nível das indústrias
florestais um “saldo fortemente positivo”, sendo que nas produções silvícolas
se regista um “declínio progressivo”. Ou seja, as evidências apontam para
relações win-lose, de curto prazo porque insustentáveis.
Este
facto aporta consequências negativas não só para as atividades silvícolas, para
os detentores dos espaços florestais, mas também têm forte impacto ao nível da Conservação
da Natureza (dos solos, da água, da fauna e flora), do Ambiente (emissões
decorrentes dos incêndios, avanço da desertificação), no Desenvolvimento Rural (êxodo
rural e despovoamento das zonas raianas) e logo para a Sociedade Portuguesa em
geral.
Efetivamente,
o “declínio progressivo da atividade silvícola” é a consequência da forte
quebra de expectativas de negócio das superfícies florestais, maioritariamente
na posse de centenas milhar de proprietários privados, esmagadoramente com
explorações de minifúndio e descapitalizados, sendo responsável pela adoção de formas
de gestão tecnicamente inadequadas, usualmente designada por absentismo, adotadas
no sentido de evitar maiores prejuízos financeiros.
O
comprometimento de rentabilidade silvícola inviabiliza uma gestão ativa e
sustentável nos espaços florestais, condiciona o ordenamento florestal e aporta
riscos bem conhecidos, entre eles a propagação dos incêndios florestais e a proliferação
de pragas e doenças.
O
relacionamento “egoísta” da indústria (com o ganho - win) para com a
produção silvícola (perdedora – lose), compromete fortemente o
investimento florestal. Disso são exemplo os ridículos resultados evidenciados
pelo PRODER, nas medidas de apoio financeiro às florestas (período 2007/2013),
com uma taxa de execução física abaixo dos 15%.
Perante
isto, o Estado premeia o win:
- Ao criar uma “Campanha do Eucalipto” (mas, ao contrário da Campanha do Trigo, de 1938, sem garantias de apoio técnico à produção, nem regulação dos preços), ao que tudo indica para fomentar mais 40 mil hectares de eucaliptal, com previsíveis impactos ambientais nefastos, muito embora, por um lado, sejam evidentes os indícios de crescente abandono de gestão nos eucaliptais (decréscimo de rentabilidade) e, por outro, da produtividade média por hectare nos eucaliptais nacionais se situar a valores de 1928 (10 metros cúbicos/hectare/ano);
- Na isenção de impostos (em 2010 e 2011, dados tornados públicos, só a Portucel auferiu cerca de 50 milhões de euros em Benefícios Fiscais); e,
- Sobretudo por se esquivar à regulação dos mercados de produtos florestais, apesar das inequívocas relações win-lose, das evidências de monopólio e de concorrência limitada, bem como sem ter em conta que a quebra de expectativas na atividade silvícola gera fortes impactos no Desenvolvimento Rural, no Ordenamento do Território e no Ambiente.
Paulo Pimenta de Castro, Eng. Florestal
(Publicado no Agroportal, em http://www.agroportal.pt/a/2012/pcastro6.htm#.UGtTtE1G9MA)
(Publicado no Agroportal, em http://www.agroportal.pt/a/2012/pcastro6.htm#.UGtTtE1G9MA)
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