Já todos sabemos que as florestas em
Portugal são detidas esmagadoramente por privados, em cerca de 98% da área
arborizada nacional.
Também sabemos que essa área
florestal privada é detida sobretudo por famílias, famílias essas que têm
expetativas de rendimentos legítimos a partir das explorações que possuem.
Sabemos também, por forte divulgação
na Imprensa, que tais famílias, sobretudo em regiões de minifúndio, não gerem adequadamente
as suas superfícies florestais. Por gerir adequadamente entenda-se a realização
de práticas silvícolas e comerciais que potenciem a produção e a
comercialização de bens ou a prestação de serviços com cotação nos mercados,
cotação essa que gere rendimento que, entre outros objetivos, permita custear a
proteção dos seus terrenos e dos recursos naturais nele existentes contra os
riscos associados aos investimentos em floresta, sejam os incêndios, sejam as
pragas ou as doenças.
Todavia, há um risco que se sobrepõe
aos demais: os condicionalismos de acesso aos mercados de bens e de serviços de
base florestal. Tais condicionalismos podem anular as expetativas de rendimento
e dessa forma induzir à minimização ou à ausência da tal adequada gestão dos
espaços florestais.
Deste modelo de gestão florestal, minimalista
ou ausente, já o País sabe o que pode esperar: maiores riscos na propagação de
incêndios e na proliferação de pragas e de doenças, mais despesa pública,
depreciação e perda de recursos naturais, contração da economia agrária e industrial,
êxodo rural, perda de bens e de vidas humanas.
Poderemos então falar de floresta
privada segura, assente num modelo de gestão ativa, profissional,
desejavelmente sustentável, sem que nela se desenvolvam negócios sustentados?
Serão socialmente responsáveis as
fileiras silvoindustriais, dominadas por oligopólios, onde imperam relações de
domínio, com a formação dos preços condicionada por imposições unilaterais à
produção?
São politicamente responsáveis as
governações que definem apoios públicos às florestas desinseridos das legítimas
expetativas de rendimento dos seus detentores, que têm produzido, ao contrário
do anunciado, a desflorestação, o declínio da economia florestal e a redução do
emprego no setor, sobretudo em meios rurais?
Não serão os apoios públicos às
florestas apenas “balões de oxigénio” para fomentar uma estratégia de
perpetuidade do pagamento de preços baixos à produção?
Nos apoios públicos inserem-se não
só os propagandeados subsídios não reembolsáveis, supostamente atribuídos aos
proprietários florestais (sê-lo-ão de facto?), mas também as simplificações
legislativas com idêntica estratégia: o fomento de uma oferta descontrolada e
de baixa qualidade para garantir o controlo de preços por parte de uma procura
concentrada e, totalmente ou cada vez mais, ausente dos riscos associados aos
ciclos de produção florestal.
Sendo a atividade florestal tão
essencial para a economia nacional:
- Qual a razão para a indústria
papeleira ter desinvestido, em mais de 30 mil hectares nos últimos 8 anos, de
áreas próprias de eucaliptal, negócio que vende a terceiros como de boa
rentabilidade?
- Por outro lado, qual a razão para
a indústria de pellets de madeira não investir em florestações que permitam
assegurar a sustentabilidade a médio e longo prazo do seu negócio, deixando de
assentar a sua atividade principalmente na especulação criada a partir da
proliferação criminosa da doença do nemátodo da madeira de pinheiro? Já agora,
a indústria dos aglomerados não lhe fica atrás.
Querer vender lógicas de aposta numa
floresta segura, quando esmagadoramente privada e sem expetativas de rendimento
pelos seus detentores, só com muita hipocrisia.
(Publicado no Agroportal, em http://www.agroportal.pt/a/2014/pcastro5.htm#.U2yKdfldW5g)
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