Em 1994 escrevi, em co-autoria com o Prof. António Fabião. um artigo para a
Revista Florestal sobre "As podas camarárias: considerações sobre
a futilidade de um acto de mutilação". Volto ao assunto vinte e quatro
anos depois porque continuo a ver que esta prática se instalou nas nossas vilas
e cidades. sem que os responsáveis se apercebam dos malefícios que provocam nas
árvores urbanas.
Pelos benefícios que nos trazem é impensável uma urbe pequena ou grande sem
árvores; estas são um filtro de poeiras, sumidouros de CO2, dissipam
energia dos ventos, absorvem ruído, dão-nos sombra, são um suporte da
diversidade biológica.
A ablação total das copas não faz sentido algum; retira nutrientes, retira
a capacidade das árvores desenvolverem os benefícios que cito, provocam o
crescimento radicular para além do desejável, desequilibra totalmente o
equilíbrio dos indivíduos mutilados (sim, porque é de mutilação que falamos) é
inestético, não traz em suma qualquer benefício.
Cada árvore tem um crescimento distinto; não se deve adaptar a árvore ao
local mas escolher a árvore mais adequada para o local. penso que está aqui
a justificação para as talhadias altas que vemos por todo o lado. Não sendo por
uma necessidade absoluta, de controlar crescimentos indesejáveis, só posso
atribuir esta prática a uma total e absoluta ignorância.
Rolar uma árvore (assim se chama na gíria, ás talhadias de cabeça) deve ser feita por quem tenha conhecimentos sobre
esta prática. Não basta saber trabalhar com uma motosserra; a orientação das
superfícies (feridas) que ficam expostas, a protecção destas e dos câmbios
suberoso e vascular são do conhecimento vulgar, de quem sabe.
Não conto, com mais este alerta, modificar alguma coisa. Fica, no entanto,
o desabafo do Silvicultor e acima de tudo do Cidadão.
Hélder Joia da Silva
Engenheiro Silvicultor
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