Conforme
assumido pelo Governo, com a aprovação do Plano de Redução e Melhoria da
Administração Central (PREMAC) em setembro de 2011, a fusão da Autoridade
Florestal Nacional (AFN) e do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade
(ICNB), enquadra-se no processo de melhoria organizacional da Administração
Central e no ajustamento do peso do Estado aos limites financeiros do País.
Em
maio de 2012 é aprovada, em Conselho de Ministros, a criação do Instituto de
Conservação da Natureza e das Florestas, I.P. (ICNF). A aprovação da orgânica
do ICNF ocorreu passados quase 11 meses da tomada de posse do Governo, 8 meses
após a publicação do PREMAC e 5 meses após a aprovação da orgânica do Ministério
da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (MAMAOT),
que o tutela.
O
ICNF herda o estatuto das duas autoridades nacionais com atribuições nos
espaços silvestres em Portugal. A AFN assume o património histórico da
Administração Florestal das Matas do Reino, criada como organismo autónomo em
1824, e o ICNB descende do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património
Paisagístico, criado em 1975, incorporando a Divisão
de Parques e Reservas, da então Direção Geral do Fomento Florestal.
No histórico
de entidades antecessoras da AFN, com as mais variadíssimas designações nas
últimas décadas, assistiu-se a alguns momentos de controvérsia no que respeita
á florestação com espécies de rápido crescimento (ERC). Uma delas, que na
altura estigmatizou, e talvez ainda estigmatize os Serviços Florestais do
Estado, foi a transferência de muitos técnicos superiores destes para as
empresas da indústria de celulose, em fase de grande expansão nas décadas de 70
e 80. No final dos anos 80, os serviços conseguiram contribuir para o
apaziguamento social dos ânimos face á contestação às florestações com as ERC.
A sua imagem ficou contudo beliscada, talvez mais por motivos intrínsecos, do
que por fatores externos. Facto é que o seu papel se tem vindo a desvalorizar
socialmente ao longo dos anos.
O
ICNB e seus antecessores, por seu lado, tiveram uma maior aceitação social,
sobretudo em meio urbano, vinculado que está à conservação da Natureza. Foi
igualmente contestada a sua atuação, designadamente no que respeita á gestão da
Rede Nacional de Áreas Protegidas, embora aqui num contexto de condicionamento
da atividade económica.
Concretizada
a fusão, não deixa de ser confrangedor assistir à repetição da história, não
pelos melhores motivos.
Ao
invés de ver valorizados os aspectos socialmente positivos do património
histórico dos dois organismos que o antecedem, assiste-se agora à
estigmatização da nova entidade, associando-a a uma proposta de alteração
legislativa avulsa, extemporânea e mesmo irresponsável, concretamente a que
pretende alterar as regras nas ações de florestação com as ERC.
A
indústria de celulose e papel é importante para Portugal, compreende-se até o
esforço empresarial na defesa do negócio, não se entende é a postura do MAMAOT,
quer ao procrastinar a definição de uma Visão para os espaços silvestres em
Portugal, quer ao permitir estigmatizar o ICNF logo à nascença, ao fazê-lo debutar
perante o País com uma intervenção totalmente desastrosa.
Paulo Pimenta de
Castro
Engenheiro Florestal
Presidente da Direção da Acréscimo –
Associação de Promoção ao Investimento Florestal
(Ver em http://www.vidarural.pt/news.aspx?menuid=8&eid=6584&bl=1 ou em http://diarioagrario.blogspot.pt/2012/07/estigmatizado-nascenca.html)
(Ver em http://www.vidarural.pt/news.aspx?menuid=8&eid=6584&bl=1 ou em http://diarioagrario.blogspot.pt/2012/07/estigmatizado-nascenca.html)
Esta obsessão do presidente da Acréscimo por um projecto de diploma que quem floresta o que quer que seja - o que não e o caso dele nem da Acréscimo - sabe que e urgente e necessario e que corre o risco de estigmatizar a Promissora Acréscimo!
ResponderEliminarAfinal onde estão os erros do projecto? O que e que e preciso explicar mais?
E isto de relacionar o definhar dos Serviços Florestais com as celuloses e mesmo uma "descoberta" surpreendente! Esta ainda não tinha ouvido!
Abraço
JSoares
E só mais uma nota: a industria da celulose - que já e mais do papel que da celulose...- não esta a defender o negocio! Esta a gerar riqueza num pais paupérrimo e falido!
EliminarQuem mais o faz?
Vale a pena olhar para o PSI 20 e ver quem são as maiores empresas...e quantas, sendo nacionais, não se limitam a aproveitar do negocio das utilities reguladas...
Há muito poucas...e as maiores fabricam pasta e papel...
JSoares
Urgente, do meu ponto de vista, é garantir a viabilidade dos povoamentos florestais existentes, pela sua gestão ativa. Florestar, por muito urgente que possa parecer, só será consequente para o País, depois de garantida essa gestão. Isso já acontece em áreas de floresta certificada e em zonas de intervenção florestal. Fora isso, o risco social, ambiental e económico é muito elevado. Sem garantia de gestão, não se deve florestar. É imperioso cortar o ciclo floresta-arde-refloresta, pois muito provavelmente voltará a arder, caso não haja gestão florestal. O projecto de diploma não tem explicação possível, é um ato avulso, extemporâneo e, sobretudo, irresponsável.
ResponderEliminarNão está referido no texto, nem subentendido sequer, que o definhar dos Serviços está relacionado com a indústria, qualquer que ela seja.
Salvadores da Pátria temos tido muitos, as celuloses ainda não tinha visto na lista.
Um abraço, Paulo Castro
Nalguma coisa estamos de acordo!
EliminarA floresta certificada (a das empresas esta 100%) e a boa gestão são condições previas a florestação...
Agora só falta ser burocraticamente possível...(dai a defesa da necessidade de nova legislação...).
A boa gestão em ZIF...e ainda wishful thinking...
A melhoria da política florestal faz-se avançando em todas as frentes e não por secções estanques.
Quando a ligação entre SF estigmatizados e celuloses basta reler o texto...
Ninguém fala em salvadores da pátria mas importa ter a noção do estado em que esta o pais e o que vamos deixar para a geração seguinte. E contribuir para gerar riqueza de forma SUSTENTÁVEL e algo que todos deveríamos apoiar sem preconceitos absurdos.
Abraço
JSoares
Não parece estarmos longe de um acordo. Contudo, separa-nos de início um "preconceito", assumido convictamente pela Acréscimo: sem garantia de gestão, preferencialmente sustentável, não deve ir mais uma planta para o terreno, seja exótica ou autóctone. Ora, não estando assegurado este pressuposto basilar, a actual proposta do ICNF mantém-se avulsa e irresponsável, para além de extemporânea (questão não abordada ainda).
ResponderEliminarQuanto a estigma, a Acréscimo assume-se totalmente estigmatizada em dois grupos de princípios: os do Desenvolvimento Sustentável (a iniciativa do ICNF está longe disso) e os de responsabilidade social (a indústria está a léguas). Isso foi assumido desde que se apresentou publicamente.
Um abraço,
Paulo Castro